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Jovens abusam de estimulantes sexuais


Remédio para a impotência sexual

Remédio para a impotência sexual Foto: agencias

É cada vez maior o número de homens entre 18 e 25 anos que utilizam estimulantes sexuais de forma indevida. Seja pela vontade de impressionar seus/suas parceiros(as) ou pelo receio de “negar fogo”, a venda de medicamentos para disfunção erétil se tornou comum entre os jovens nas farmácias de São Luís.

Motivados pela curiosidade ou incentivados por amigos, muitos jovens têm experiências casuais com os estimulantes e passam a utilizá-los de maneira indiscriminada. O engenheiro Lucas Moura (nome fictício) é um destes jovens. Ele diz ter usado estimulantes sexuais por uma vez, para conhecer os seus efeitos. “Meus amigos falavam que era bom e decidi experimentar. Não senti nenhum problema, só muito calor. O efeito é real e tenho amigos que usam sempre, mas não pretendo seguir utilizando enquanto realmente não precisar. Foi só uma aventura.”

No entanto, de acordo com pesquisa realizada pelo Instituto alemão GFK em 2015, um em cada cinco brasileiros de 22 a 30 anos que experimentaram os estimulantes passou a utilizá-los em todas as suas relações. É o caso de Guilherme, estudante de Comunicação em uma universidade de São Luís. “Comecei a tomar por curiosidade. Usei uma vez e gostei muito. Senti mais confiança. De lá pra cá, perdi a conta de quantas vezes já tomei. Sinto que a relação dura mais tempo e eu tenho mais disposição. Cheguei a ter quatro relações em uma noite. Acho que nunca nenhuma percebeu que uso, inclusive algumas ficaram no meu pé por conta da performance”.

R. S. M., empresária, afirma já ter aceitado testar os efeitos dos medicamentos com seu ex-marido. Sobre a experiência, ela relata: “Recorri ao uso de um estimulante sexual durante uma crise no meu relacionamento, queria algo que pudesse esquentar o clima sem ser muito agressivo. Foi bem fácil de encontrar e o resultado foi satisfatório. Mas ainda acredito que o melhor remédio para esse tipo de situação é o diálogo. Uma conversa sincera e aberta entre o casal pode ser muito mais eficiente que qualquer artifício. Afinal de contas, o sexo melhorou por um tempo, mas mesmo assim hoje ele é meu ex”.

Reações adversas

As reações adversas causadas pelo uso indevido de estimulantes podem ser severas, mas isso não parece intimidar os usuários. Problemas como o comprometimento das funções cardíacas, ou ainda a dependência química e psicológica às substâncias são consequências comuns após o uso impróprio de estimulantes sexuais.
De acordo com o urologista Leudivan Nogueira, ex-Presidente da seccional maranhense da Sociedade Brasileira de Urologia, “o jovem, em sua grande maioria, não necessita desse tipo de medicamentos. Seu uso indiscriminado só irá trazer consequências negativas e poderá prejudicar a saúde do paciente. O número de atendimentos em consultório nesse tipo de casos é escasso, visto que os usuários adquirem os medicamentos diretamente nas farmácias – isso é algo que nos preocupa”.

De fácil acesso

Adquirir os medicamentos é simples. Como não possuem tarja indicativa de controle com retenção de receita, vermelha ou preta, as drogarias os vendem sem qualquer limitante (apesar de as caixas indicarem a “venda sob prescrição médica”). Nas três farmácias pesquisadas pela reportagem, não foram solicitadas receitas no momento da compra.
Em uma farmácia localizada no bairro do Renascença, a equipe de vendedores afirma que a comercialização para jovens é maior nas sextas-feiras, nos feriados e nos fins de semana. De acordo com Lister Junior, farmacêutico da drogaria, “os usuários buscam esse tipo de medicamento pela recomendação de amigos; a busca deles é por ter relações mais longas e aparentar ser mais viris. Também é comum a utilização em festas, combinados com bebidas alcoólicas ou energéticas”.

Joyce Santos, farmacêutica de uma drogaria no São Francisco, garante que o número de clientes entre 20 e 25 anos cresceu substancialmente nos últimos meses. “Hoje, pelo menos 30% das pessoas que procuram estimulantes sexuais nesta farmácia são jovens. Alguns têm vergonha e pedem a outras pessoas, como os guardadores de carros, que comprem os remédios em seu lugar.”

Desde 2010, com a decisão do governo federal de quebrar a patente das principais marcas comerciais, a quantidade de remédios genéricos aumentou e os custos de venda ao consumidor diminuíram. Na capital, os princípios ativos mais comuns – nitrato de sildenafila e taladefila – são encontrados por valores médios de R$ 13 (caixa com 1 comprimido) e R$ 14,86 (2 comprimidos), respectivamente.

Curioso é que a própria descoberta das implicações sexuais destes medicamentos foi um efeito colateral. Apesar de originalmente terem sido criados para combater a hipertensão e a angina (doenças cardiovasculares), foi o efeito na vida sexual de homens e mulheres o que terminou consagrando este tipo de medicamento. Relatórios de venda da farmacêutica Pfizer apontam para a comercialização anual entre 7 e 8 milhões de comprimidos, desde 2013.

Associação

Nas academias, também é comum a comercialização dos comprimidos, em geral associada ao uso de anabolizantes. De acordo com Erivelton Silva, instrutor físico, “o uso de anabolizantes tende a gerar impotência sexual em médio prazo; por isso, muitas pessoas buscam também utilizar as ‘pílulas estimulantes’ para compensar o problema. Não vale a pena de nenhuma forma”.
O urologista Leudivan Nogueira alerta: “A utilização combinada de hormônios de aplicação intramuscular e de estimulantes sexuais sobrecarrega o funcionamento hepático e o sistema circulatório, podendo gerar doenças cardíacas ou falência renal”.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Urologia, no ano de 2015, 29% dos homens brasileiros utilizaram algum tipo de estimulante sexual. E 62% o fizeram sem recomendação médica. Os três maiores fornecedores da primeira dose utilizada foram: amigos (41%), farmácias (39%) e o comércio informal, como as academias e festas (5%).

Experiências

Ricardo Silva tem 24 anos e é administrador de empresas. Apesar de afirmar não precisar da pílula no dia a dia, os relatos promissores de alguns amigos e a insegurança por começar a sair com uma nova garota o motivaram a ter um comprimido guardado “de sobreaviso”.

“Experimentei em um dia normal, não tinha bebido e foi com consentimento da minha parceira. Nós dois estávamos curiosos. Não sei ao certo se ‘o psicológico’ e a animação ajudaram, mas a performance foi bem diferente – a excitação demorou bem mais que o usual e o tempo entre relações foi mínimo”.

Segundo Ricardo, o efeito iniciou em meia hora após ter tomado o medicamento, e durou entre quatro e cinco horas, no total. Relatando estar satisfeito, confessa que os comentários da sua parceira também foram positivos: “Minha parceira também disse ter notado algo mais intenso”. Apesar de ter sofrido um pequeno efeito colateral, diz estar aberto a novas experiências com o estimulante. “Essa foi a única vez. Senti um pouco de arritmia algumas horas depois, mas a experiência valeu a pena – não vejo mal algum em usar com moderação”, declarou.
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Álvaro Mota

Álvaro Mota

É advogado, procurador do Estado e mestre em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco - UFPE. Álvaro também é presidente do Instituto dos Advogados Piauienses.
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