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DENÚNCIA

Professora que denunciou importunação sexual no IFPI se manifesta; veja vídeo

Rosemary Farias afirmou que além de passar por um constrangimento, ainda foi intimidada com linguagens ofensivas

Da Redação

Terça - 17/10/2023 às 09:50



Foto: Print do Vídeo Professora Rosemary Farias
Professora Rosemary Farias

Teresina (PI) - A docente do Instituto Federal do Piauí (IFPI), Rosemary Farias, se pronunciou sobre o caso de importunação sexual que ela sofreu dentro do campus central do IFPI, em Teresina. A professora acusa um aluno da instituição de ter passado a mão em suas costas quando ela estava entrando no elevador. O caso ocorreu no mês passado e ganhou grande repercussão. 

O rapaz envolvido filmou a professora após o episódio. Nos vídeos compartilhados nas redes sociais, o aluno aparece discutindo com Rosemary Farias, a chamando de mentirosa. Ele negou ter passado a mão nas costas da professora e diz que não há provas da acusação. Prosperamente, o aluno foi detido e levado à Central de Flagrantes.  

Em nota enviada à imprensa, a professora relatou que no dia 20 de setembro estava entrando no elevador por volta das 18h40 quando um homem que estava saindo passou por trás dela e deslizou as mãos em suas costas. 

"Por volta das 18:40 um homem estava saindo e, ao segurar a porta do elevador, segurei de um lado e ele também. Ao invés dele sair pelo lado contrário, saiu pelo mesmo lado em que eu segurava a porta do elevador, por trás de mim, deslizando as mãos nas minhas costas com evidente intenção de alisamento de meu corpo", relatou Rosemary Farias.

Ela disse ainda que questionou o motivo pelo qual o homem tocou em seu corpo e disse que ele não tinha esse direito. Segundo ela, a resposta imediata dele foi “pode denunciar”. 

A professora gravou um vídeo esclarecendo sua versão, dando detalhes sobre o caso e afirmando que as providências estão sendo tomadas. Ela disse ainda que além de passar por um constrangimento, ainda foi intimidada com linguagens ofensivas. Assista:

A Frente Popular de Mulheres Contra o Feminicídio, movimento popular feminista na qual Rosemary faz parte, manifestou uma nota em defesa da professora destacando que ela passou por uma "situação vexatória" e que o homem passou os "limites do decoro e do respeito às mulheres, cometendo o ato invasivo de passar a mão nas costas da professora". 

A Frente Popular de Mulheres disse ainda que "não se trata de um garoto e sim de um homem, com mais de 30 anos, que deve ser responsabilizado pelos seus atos, inclusive pelo fato de ter exposto a professora nas redes sociais".

NOTA PÚBLICA EM SOLIDARIEDADE À COMPANHEIRA ROSEMARY FARIAS

A Frente Popular de Mulheres Contra o Feminicídio se solidariza com nossa
companheira de luta Rosemary Farias, professora e mestra do Instituto
Federal do Piauí – IFPI, que foi submetida a uma situação vexatória por um
homem estudante daquela escola, o qual ultrapassou os limites do decoro e
do respeito às mulheres, cometendo o ato invasivo de "passar a mão" nas
costas da professora, quando ela ia entrando e ele saindo do elevador
daquela instituição, em Teresina, estado do Piauí.

Ao ser questionado pela professora quanto à atitude de importunação, o
agressor, ao invés de reconhecer o seu erro e se redimir, postou vídeos
depreciativos em relação a ela, expondo sua imagem indevidamente.
Para ele, tudo estaria dentro da normalidade, em que assediar mulher é
totalmente naturalizado, não importa o quanto seus gestos e ações possam
ter constrangido a mulher.

O modo como agiu em seguida, acusando a professora de mentirosa,
se enquadra muito bem na cultura machista cultivada por uma sociedade
dirigida por homens que tratam as mulheres como meros objetos de prazer e
desconsideração.

Quando a professora Rosemary, ao ser chamada de mentirosa, enfatizou
ser servidora pública e advogada, tentava fazer com que ele
reconhecesse seu gesto invasivo e que entendesse o significado de ser
servidora pública, cujo dever ético é promover e zelar por determinados
princípios e comportamentos. E que, como advogada, tem a obrigação de
trilhar os caminhos da justiça formal para obter reparação aos direitos das
outras pessoas, mas também aos próprios direitos.

O método usado por ele é bem conhecido pelo movimento popular
feminista, de que faz parte a companheira Rosemary: homens violentos
passam a desqualificar a mulher quando se sentem ameaçados pelas
consequências do seu próprio gesto, atitude que o enquadra como alguém
confiante na impunidade.

Ele enfatizou, num vídeo distribuído nas redes sociais, que não pode ser
“ferrado” por uma mulher, como se houvesse a pura intenção de prejudicar
uma pessoa inocente. Inocente ele não é.

Não se trata de um garoto e sim de um homem, com mais de 30 anos,
que deve ser responsabilizado pelos seus atos, inclusive pelo fato de ter
exposto a professora nas redes sociais.

Somos sabedoras do impacto que certas atitudes têm sobre as vítimas.
Na realidade, as mulheres são violentadas em seu dia-a-dia e quase tudo fica
por conta do que chamam de reação desproporcional da mulher, quando
sabemos que o corpo, seja de uma mulher, de uma menina, menino ou de um
homem, é território que deve ser tratado com a dignidade que todas, todos e
todes merecemos. Temos avançado nas leis e jurisprudência nesse sentido.

É nesses momentos e em outros que a sociedade tem que se posicionar,
sob pena de nunca conseguirmos sair do ciclo vicioso da violência sexista e
institucional. Não é possível tolerar tais comportamentos, ainda mais no
âmbito de uma instituição pública.

Exigimos um posicionamento firme da direção do IFPI, que aliás, tem
tido recorrentes denúncias de assédio no ambiente educacional, e que a
justiça se faça no processo que começa a ter andamento, apostando sempre
na reeducação das relações.

Quem atinge uma mulher atinge todas!

Representantes da Frente Popular de Mulheres contra o Feminicídio:
Ana Célia Santos
Lucineide Barros
Madalena Nunes
Norma Soely Guimarães

NOTA PÚBLICA DA PROFESSORA ROSEMARY FARIAS

Rosemary Farias, mãe, mulher, casada, servidora pública federal, participante do
movimento Frente Popular de Mulheres contra o Feminicídio, venho me manifestar através
dessa nota pública conjunta com a Advocacia Popular Piauiense-APP para esclarecer um
lastimável fato que aconteceu comigo nas dependências de meu ambiente de trabalho-IFPI.

Relato do ocorrido

Primeiro momento – a agressão: na entrada do elevador, dia 20.09.2023, por volta das
18:40 um homem estava saindo e, ao segurar a porta do elevador, segurei de um lado e ele
também. Ao invés dele sair pelo lado contrário, saiu pelo mesmo lado em que eu segurava a
porta do elevador, por trás de mim, deslizando as mãos nas minhas costas com evidente
intenção de alisamento de meu corpo.
Ao ser questionado por mim, por que fez aquilo: Por que tocou no meu corpo? Você não
tem o direito de tocar no meu corpo, a resposta imediata dele foi “pode denunciar”. Perguntei
se era servidor ou aluno, mas não obtive resposta.

Segundo momento – falando com o representante da instituição: fui para minha sala
de aula. Após perceber que eu estava nervosa, os alunos perguntaram o que estava
acontecendo. Relatei tudo. Chorei em sala de aula. Ao sair da sala, procurei alguém que
representasse a instituição para relatar o fato. Relatei e pedi que tomasse as providências
devidas. Dei as características do homem que passou a mão em mim, pois poderia ser um
visitante, servidor ou aluno. O representante falou que foi uma situação muito chata, mas não
tomou nenhuma providência.

Terceiro momento - gravação do primeiro vídeo: após sair da conversa com o
representante da instituição avistei o mesmo homem no corredor B3 e solicitei ao representante
que falasse com ele, procurasse saber quem era, se estranho, aluno ou servidor. Ele ficou
conversando com o estranho. Percebendo o diálogo que parecia amigável, me aproximei e
reiterei o que havia dito no elevador, que havia passado as mãos nas minhas costas. Ele poderia
pedir desculpas pelo que fez, mas nesse momento ligou o celular e começou a gravar. Me
ofendeu me chamando de mentirosa, de forma leviana. Indignada, respondi que não era
mentirosa. Sou responsável, cumpro meus deveres como docente, sou servidora pública federal,
pedi que me respeitasse. Após minha fala ele determinou: “baixe seu tom de voz”. Me senti
acuada, intimidada e coagida.
Quarto momento – a denúncia: retorno para minha sala para continuar meu trabalho .
Pedi apoio ao sindicato de minha categoria e, seguindo a orientação liguei para o 190, para
denunciar. Acompanhada do advogado do Sindicato fui registrar BO, o homem foi conduzido
para Central de Flagrantes de Gênero. Na Central de Flagrantes de Gênero o homem, produziu
o segundo vídeo demonstrando que estava algemado. Não sabemos como foi permitido que ele
gravasse o segundo vídeo nas dependências da Central de Flagrantes de Gênero. Com uma das
mãos algemadas ele se colocou como vítima tentando inverter a situação, me acusando de estar
fazendo uma coisa errada com ele, diz “ela vai segurar o rojão” e “pede para circular o vídeo
nos grupos do IFPI”. Não reconhece que cometeu um comportamento passível de avaliação à
luz da Lei. Ao analisar os fatos a autoridade policial tipificou a conduta como “Importunação
Sexual”, confirmada pelo BO.
Quinto momento – publicação e viralização dos vídeos: Sexta, dia 22 de setembro
fiquei sabendo através de amigos que fora postado e compartilhado em grupos diversos da
instituição e da advocacia, viralizando os vídeos. Os dois expondo minha imagem, minha
integridade moral, psicológica e da minha família.
Sexto momento – publicação e viralização dos vídeos nos portais da capital e
possivelmente de fora.

Sexta, dia 29.09.2023, vários portais de Teresina replicaram os vídeos. O primeiro,
editado de forma maldosa, excluindo a parte em que ele determina que eu baixe meu tom de
voz. O segundo colocando-se como vítima algemada por um capricho de uma professora,
incitando que o público questione o meu caráter. Essa veiculação teve o propósito de me
prejudicar, atraindo internautas que fizeram comentários desrespeitosos, lesbofóbicos,
manifestando etarismo, e misoginia, que é o ódio ao feminino.
Avaliação de uma mulher indignada

Toda mulher sabe distinguir quando seu corpo é tocado de forma inapropriada, reclamei
na hora desse homem que absurdamente deslizou sua mão em minhas costas, poderia ter sido
com qualquer adolescente ou mulher da minha instituição de ensino, mas aconteceu comigo,
todo mundo conhece meu comportamento e minha seriedade na condução de minhas
responsabilidades.
É inconcebível que um homem de 31 anos de idade, que está na instituição de ensino
para aprender desenvolvimento de sistemas, tenha o comportamento tão aviltante de deslizar
a mão nas costas de uma docente, mãe, casada e com longo trabalho prestado à formação
profissional de jovens e adultos.
Eu fui levianamente atacada de mentirosa, sou uma servidora pública federal
cumpridora de minhas responsabilidades, ser atacada de mentirosa foi profundamente
desrespeitoso e feriu a minha dignidade profissional de quase 27 anos de serviços prestados
com muito zelo, compromisso e dedicação ao ensino profissional na minha instituição.
Infelizmente esse homem maliciosamente publicou em grupos de WhatsApp da minha
instituição e fora dela a indignação de uma mulher, mãe, casada há 30 anos, docente,
extensionista, pesquisadora, dedicada à sua família, trabalho e estudos.
Esse homem, editou o vídeo que ele publicou, pois retirou a parte que ele se aproxima
de mim e determina que eu baixe meu tom de voz. Ele não representa o público estudantil da
minha instituição, não representa nossos estudantes que são respeitosos, educados e
cumpridores dos deveres de estudantes, portanto esse comportamento abusivo desse homem
deve ser repreendido sempre! Foi isso que fiz, estou no meu papel de docente, mulher, mãe e
esposa repreendendo um comportamento abusivo de um homem que se diz estudante de
sistemas e não cumpre o decoro esperado de um estudante de uma instituição que, há mais de
113 anos vem trabalhando para formar profissionais e cidadãos comprometidos com a ética e
transformação social, eu faço parte dessa história há mais de 30 anos, pois fui estudante da
minha instituição e sempre tratei com muito respeito todos os meus professores e colegas,
dessa forma é inaceitável o comportamento desse homem que se diz estudante da minha
instituição de ensino e que age com desprezo, falta de respeito e educação com a docente em
pleno horário de trabalho.

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