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JUSTIÇA

Julgamentos dos feminicídios de Renata e Janaína serão dia 17 de agosto

A família das jovens vítimas de feminicídio clamam por justiça

Arnaldo Silva

Segunda - 07/08/2023 às 13:28



Foto: Reprodução Renata Costa e Janaína Bezerra
Renata Costa e Janaína Bezerra

No dia 17 de agosto, estão agendados os julgamentos dos feminicidas Francisco das Chagas Ferreira, em Floriano, e Thiago Mayson da Silva Barbosa, em Teresina. Francisco é acusado pela morte e ocultação de cadáver contra sua ex-companheira, Renata Pereira da Costa, de 29 anos, ocorrido em dezembro de 2020. Por sua vez, Thiago é acusado de estuprar e assassinar a estudante de jornalismo da UFPI, Janaina da Silva Bezerra, de 22 anos, em janeiro deste ano.

O julgamento de Thiago Mayson da Silva Barbosa, ex-estudante de mestrado em matemática de 28 anos, começará às 8h30 e foi marcado pela juíza Maria Zilnar Coutinho Leal, da 1ª Vara do Tribunal Popular do Júri da Comarca de Teresina.

Em 5 de abril, Thiago Mayson passou por uma audiência de instrução, presidida pelo juiz Antônio Nolêto. Nessa sessão, foram ouvidas as testemunhas de defesa e acusação.

O julgamento de Francisco das Chagas Ferreira, também conhecido como Chaguinha, ex-vereador de Nazaré do Piauí, está previsto para começar por volta das 9 horas e foi marcado pelo juiz de direito auxiliar da 1ª Vara de Floriano, Franco Morette Felício de Azevedo.

Em 27 de julho, ocorreu no Fórum de Floriano o sorteio dos 25 jurados que participarão do julgamento. Francisco das Chagas Ferreira foi pronunciado para ser julgado pelo Júri Popular em 8 de outubro de 2021.

Família das vítimas

Mãe de Janaína clama por justiça

“Eu só quero pedir uma coisa, justiça!”, disse Dona Maria do Socorro Nunes, de 53 anos, mãe de Janaína Bezerra, ao Piauí Hoje.com. “Que a morte da minha filha não fique impune, para que ele não faça mais o que ele fez. Pelo muito a Deus todo dia [por justiça], porque a minha vida nunca mais foi a mesma, minha vida não vai voltar mais ao normal”, lamentou Dona Maria do Socorro.

“Eu só era feliz com minha filha, e ele [acusado] tirou um pedaço de mim. Então não sou feliz, minha família não está completa, ele destruiu. Eu peço justiça, somente justiça”, enfatizou a mãe da jovem estudante de jornalismo que teve sua vida interrompida dentro do campus da Universidade Federal do Piauí.

Dona Maria do Socorro - Foto: Matheus Santos do Portal Viagora

Dona Maria do Socorro clama por justiça e diz que apesar de tudo que passou, nunca perdeu a fé. “Eu oro todo dia, eu peço muito a Deus, muito mesmo. Graças a Deus, depois de tudo que aconteceu, eu não perdi a fé e nunca vou perder. Só quero justiça, justiça pela minha filha, que minha filha não merecia passar o que ela passou, não merecia”, finalizou.

Dor, saudade e revolta

Andréia Pereira da Silva, irmã de Renata Pereira da Costa, contou à redação do Piauí Hoje.com que a vida da família nunca mais foi a mesma desde o falecimento da irmã.

“As nossas vidas, elas nunca mais foram as mesmas, desde que a minha irmã faleceu. Teve uma grande mudança e a gente sente muito a falta dela, até hoje. Cada aniversário, cada momento em família, e ela não estar presente, é uma experiência muito grande, dói o nosso coração” contou.

Foto: Reprodução

Renata deixou dois filhos, uma menina e um menino que hoje têm 14 e 7 anos, respectivamente. Andreia contou que o mais novo, que é autista, chora todos os dias sentindo falta da mãe.

A irmã de Renata contou ainda do apoio que a família recebe da Frente Popular das Mulheres. “a gente não teve [apoio] de nenhum órgão governamental, de nenhuma organização, assim, a não ser a Frente das Mulheres, que sempre nos ajudou na procura da minha irmã”, contou.

“A gente clama por justiça”

Com a aproximação da data do julgamento do acusado pelo crime de feminicídio e ocultação de cadáver contra Renata Pereira da Costa, Andréia revelou que a família está com o coração aflito, devido a tantos outros casos que os acusados são inocentados.

“Então, muitas pessoas podem esquecer o que aconteceu, mas a família não. A família lembra todos os dias dessa tragédia. E a gente clama por justiça, né? Chegando próximo da data, o nosso coração fica aflito, porque a gente vê tantos outros casos próximos que o criminoso está solto por aí”, destacou.

A família de Renata pede justiça pela morte e ocultação do cadáver da vítima e pelos filhos que ficaram desamparados, sem uma mãe e sem um pai.

“Então, a gente espera que haja justiça nesse caso, porque além de assassinar, ele ainda escondeu o corpo da minha irmã. Então isso não pode passar despercebido. A gente clama muito por justiça, para que a justiça venha a ser feita, que cada um ali do jurado, das testemunhas, tenha empatia pelo que aconteceu, pela vida da Renata, pela família, pelos filhos dela, que hoje estão desamparados, sem uma mãe e sem um pai”, disse.

Andréia revelou ainda que a família não tem condições financeiras e que sempre contaram com a ajuda da sociedade e com o grupo Frente Popular de Mulheres, que segundo ela, sempre esteve lutando por esta causa. Por fim, a irmã de Renata lamenta que o acusado sempre teve diversos apoio de advogados e que a família não.

“A família não tem condições financeiras, pelo contrário, a gente sempre contou com a força da sociedade com o grupo da Frente Popular de Mulheres que sempre esteve lutando por esta causa também. Ao contrário do criminoso, que teve diversos advogados tanto no início quanto ao decorrer do processo e a família não. No lado da família nós temos a promotoria, a sociedade e nós temos a esperança a esperança que a justiça venha a ser feita”, finalizou.

Familiares a amigos realizaram manifestações - Foto: Reprodução

O que diz a Frente Popular de Mulheres Contra o Feminicídio

A advogada Rosemary Farias, docente e pesquisadora em violência de Gênero- IFPI ativista de Direitos Humanos e integrante da Frente Popular de Mulheres Contra o Feminicídio, contou que o movimento de mulheres vai acompanhar os julgamentos de ambos os acusados citados na matéria.

“Nós do movimento de mulheres vamos acompanhar os julgamentos dos femicídios da Janaína que ocorrerá em Teresina e da Renata que ocorrerá em Nazaré- Floriano em 17.08.2023 e sentimos muito pela perda da vida dessas jovens mulheres que foram vítimas fatais da violência de gênero no nosso Estado”, escreveu Rosemary à nossa redação.

Advogada Rosemary Farias

A advogada conta que Renata não teve nenhuma chance de defesa, pois foi brutalmente assassinada com requintes de crueldade. “O desprezo pela vida dessa mulher, mãe e amiga Renata foi tamanho que o criminoso deixou o corpo da vítima a erno sendo devorado por urubus.”

Ao falar no caso da estudante de jornalismo da UFPI, Janaína Bezerra, a ativista de Direitos Humanos contou que o acusado viu na vítima uma oportunidade de dominar e aniquilar a existência da jovem e não mediu esforços para matá-la.

“No caso da jovem estudante de jornalismo seu algoz viu naquela jovem uma oportunidade de dominar e aniquilar a existência da jovem e não mediu esforços para dar cabo a vida da jovem estudante de jornalismo Janaína, uma filha dedicada, amável, amiga e que vivia para os estudos e trabalho, lutando para que a sua vida e de sua família fosse transformada a partir de sua dedicação a formação de jornalismo, todos os seus sonhos e de sua família foram devastados pelo profundo desprezo que seu algoz desferiu contra  a vida da jovem estudante de jornalismo, Janaína”, enfatizou.

A advogada afirma que é necessário que as autoridades e a sociedade se comprometam com a eliminação de todas as formas de violência contra as mulheres. “Que os responsáveis por tais condutas delitivas sejam julgados e recebam as penas compatíveis com a hediondez dos crimes praticados”, disse.

Rosemary ressalta ainda que, o protocolo de julgamento com perspectiva de gênero do Conselho Nacional de Justiça- CNJ seja rigorosamente observado no plenário do Júri.

“A sociedade não tolera a violência contra as mulheres e meninas, portanto esperamos que esses julgamentos ocorram de forma tranquila e que seja feita justiça por Janaína e justiça por Renata, lutamos e nos mobilizamos para que tenhamos espaços seguros para todas as mulheres. Que a cultura machista e patriarcal sejam eliminadas da sociedade e que todas as mulheres e meninas possam crescer e se desenvolver sem medo e com total segurança em suas casas, no trabalho, em suas relações afetivas”, escreveu.
Por fim, a pesquisadora ressaltou que “é inconcebível e intolerável que uma mulher seja morta pelo fato dela ser mulher, essa epidemia de feminicídios tem que ter fim, o compromisso deve ser de homens e mulheres, pois quem "Mata uma Mulher, Mata a Humanidade"”, finalizou.

Relembre os casos

Caso Renata Costa

A jovem, Renata Pereira da Costa, desapareceu no dia 28 de dezembro de 2020, aos 29 anos. Na época, ela havia saído de casa por volta das 7 horas da manhã informando que iria fazer compras com o ex-marido, o ex-vereador de Nazaré do Piauí, Francisco das Chagas Ferreira, o Chaguinha, preso mais tarde como o acusado pelo feminicídio da jovem.

Renata já tinha costume de fazer as compras com o ex-marido, que estavam separados há dois anos. Ele é pai do filho mais novo da vítima, que na época tinha 04 anos. Ela também tinha outra filha, que tinha 11 anos quando a mãe desapareceu, e que também foi a última pessoa a ter contato com Renata, por volta das 9 horas, no dia do seu desaparecimento.

Renata Pereira da Costa - Foto: Reprodução

As crianças haviam ficado com uma tia que residia ao lado da casa da vítima no povoado Malhada Grande, zona rural de Nazaré do Piauí. Renata saiu de casa em sua motocicleta ao encontro do ex-companheiro no centro da cidade, onde ele residia. Nesse último contato da vítima com a filha mais velha, ela informou que já estava no carro do ex-vereador a caminho de Floriano, onde iriam fazer as compras.

Renata teve um relacionamento conturbado com o Chaguinha. A filha mais velha da vítima chegou a revelar que presenciou várias agressões contra a mãe. A união dos dois foi marcada por brigas, agressões físicas e ciúmes por parte do ex-vereador.

Um pouco mais de um mês após o desaparecimento de Renata, a motocicleta em que ela havia saído de casa foi encontrada dentro de um matagal na cidade, no dia 03 de fevereiro de 2021.

Reprodução/WhatsApp

No dia 24 de março de 2021, quase três meses após o desaparecimento da jovem, Francisco das Chagas Ferreira foi preso pela Polícia Civil do Piauí como principal suspeito do feminicídio de Renata Pereira da Costa. Nos veículos do acusado foram encontrados vestígios de sangue humano. A prisão ocorreu no povoado Barreiro, zona rural de Floriano.

Ainda conforme as investigações, Renata foi assassinada com pancadas na cabeça. O sepultamento da jovem aconteceu sob forte comoção no dia 26 de março de 2021, no povoado Malhada Grande, onde ela residia.

Caso Janaína Bezerra

A estudante de jornalismo da Universidade Federal do Piauí (Ufpi), Janaina da Silva Bezerra, foi encontrada morta dentro do campus Petrônio Portella, na zona Leste de Teresina, por volta das 11 horas do dia 28 de janeiro deste ano. A vítima foi vista com vida pela última vez em uma calourada que acontecia no local na noite anterior.

Janaina da Silva Bezerra - Foto: Arquivo Pessoal

Na época, a UFPI emitiu uma nota de esclarecimento e disse que acontecia uma festa promovida pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), que fica no setor do Centro de Ciências da Natureza (CCN). No entanto, a UFPI afirmou que a festa acontecia sem autorização de qualquer autoridade da Universidade.  

O acusado é o ex-mestrando em Matemática, Thiago Mayson da Silva Barbosa, de 28 anos. A Polícia Civil do Piauí revelou que o assassino passou quatro horas com o corpo da estudante dentro de uma sala na UFPI. Thiago foi preso em flagrante.

Thiago Mayson - Foto: Reprodução

O laudo do Instituto de Medicina Legal (IML) constatou que Janaína foi estuprada e teve o pescoço quebrado, morrendo por asfixia. A polícia concluiu que a morte ocorreu entre 4h30 e 5h. Nesse horário, o acusado gravou imagens estuprando a vítima já sem vida. A estudante estava toda ensanguentada. Ele ficou na sala com Janaína morta entre 5h às 9h, segundo a polícia.

Por volta das 9h30 um segurança da UFPI viu Thiago caminhando com Janaína nos braços no setor de matemática. O segurança levou Janaína ao Hospital da Primavera, mas ela já estava morta. O inquérito policial foi concluído no dia 05 de fevereiro e Thiago foi indiciado por homicídio duplamente qualificado.

A UFPI formou uma comissão de sindicância para apurar as condutas do mestrando em Matemática Thiago Mayson da Silva Barbosa, que decidiu pela expulsão dele.
Sob forte comoção, o sepultamento de Janaína ocorreu no cemitério Santa Maria da Codipi, zona norte de Teresina, no dia 29 de janeiro.

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