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O NEGÓCIO DO SEXO

No Dia das Prostitutas, profissionais do sexo reclamam da violência e da crise econômica

As profissionais do sexo enfrentam violência, discriminação e não contam com assistência do poder público

Por Luiz Brandão

Quinta - 02/06/2022 às 22:47



Foto: Google Prostitutas fazem ponto em ruas e avenidas em todo o mundo
Prostitutas fazem ponto em ruas e avenidas em todo o mundo

Nesta quinta-feira (02), Dia Internacional da Prostituta, profissionais do sexo no Piauí dizem não ter motivos para comemorar. Reclamam da violência, do abandono, da falta de assistência do poder público, da fome, da inflação e da crise econômica.

M.A.S se assume como prostituta. Tem 42 anos e está "nessa vida" há mais de 20 anos. Diz que ela e as colegas sofrem todo tipo de discriminação e dificuldades para sobreviver. "Ninguém se preocupa com a gente. Não querem saber se temos fome, frio ou doença. É como se não fosse gente", diz amargurada.

Nascida no bairro Matadouro, em Teresina, M.A.S frequenta um velho prostíbulo que fica em frente a um posto de combustíveis numa das esquinas da Praça Saraiva, a menos de 100 metros da Avenida José dos Santos e Silva, na Zona Sul da cidade.

Arredia e um tanto debochada, M.A.S aparenta ser uma mulher mais idosa e não se deixa fotografar. Diz ter vergonha do que faz pra sobreviver e da vida que leva. Ela conta que durante a pandemia a situação financeira dela e das colegas piorou demais.

Esse ponto de prostituição no Centro de Teresina se mantém aberto há muitos anos"Essa Covid acabou com tudo. Ninguém ganhou nada. A gente não tinha nem o que comer e vivia da caridade das pessoas. Várias colegas morreram sem assistência nenhuma", lamenta. As prostitutas realmente não tem nenhuma assistência real do poder público no Piauí.

M.A.S não sabe explicar ou esconde os motivos pelos quais foi parar na prostituição. Ela se limita a dizer que a mãe foi embora com um irmão porque o pai era alcoólatra e violento. "Ele me batia ai eu sai de casa e cai na vida. Eu era muito nova. Fui ficando com um e com outro e acabei me acostumando", diz.

Ela estudou até o primeiro ano do ensino médio, não tem filhos e afirma que não tem quem consiga acabar ou esconder a prostituição porque ela está por toda parte. "Não tem puta só no cabaré não. Tem no mundo todo. Tem muitas nos shopping, nas faculdades, nos bares e nos restaurantes. As esquinas estão cheias gays e mulheres prostitutas", garante.

Travestis fazem ponto para prostituição em várias esquinas de TeresinaDemonstrando conhecimento do que acontece na noite, M.A.S diz que existe muito preconceito e discriminação. "Aqui tem moças e rapazes que se prostituem por roupa, emprego, carro, luxo, fama e poder, mas detestam putas", afirma com tom de ironia.

E ela faz um desabafo contra a hipocrisia e o falso moralismo: "Conheço moças e rapazes (michês) que saem de casa na quinta-feira, caem na farra, transam com várias pessoas por dinheiro e droga e só voltam pra casa na segunda-feira. É prostituição total, mas se acham menos putas que nós", conclui.

No Piauí, as profissionais do sexo tem uma entidade representativa, a Associação de Prostitutas do Piauí (Aprospi). E tem também a Associação das Prostitutas de Teresina. As duas entidades são bem atuantes nas redes sociais. Elas fizeram várias publicações no Instagram da Aspropi para lembrar o Dia da Prostituta.

Prostitutas procuram clientes no centro da cidade o dia inteiro

Dia da prostituta

Dia 2 de junho é o Dia Internacional da Prostituta porque relembra a ocupação realizada por 100 prostitutas na Igreja Saint-Nizier em Lyon, na França, em 1975. O ato foi realizado com o objetivo de chamar atenção a vários tipos de violência em que elas estavam sendo vítimas e repressão policial.

Historiadores e a imprensa do mundo inteiro garantem que a ocupação em Lyon durou mais de uma semana e terminou quando todas foram expulsas pela polícia. Entretanto, durante esse tempo a imprensa, especialmente a francesa. noticiou o evento de forma efetiva. A manifestação tornou-se notícia no mundo inteiro, o que motivou a criação de associações de prostitutas em vários países, com o objetivo de lutar pela garantia de direitos.

Essa primeira ocupação resultou em outras, espalhadas pela França. Além disso, a sociedade começou a conhecer melhor a realidade das violências que as prostitutas sofriam e a luta pelos seus direitos foi se fortalecendo. A partir de então foi instituído o dia 2 de junho como o Dia Internacional da Prostituta.

Prostitutas na manifestação em Lyon em 1975

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