Piauí é estado com maior número de suspeita de fraude no Enem; diz estudo

Picos e Teresina somam 20 casos suspeitos


Caderno de questões ENEM 2016

Caderno de questões ENEM 2016 Foto: Reprodução

 O jornal Folha de S. Paulo realizou um estudo estatístico que aponta que há alta probabilidade de fraudes em 1.125 provas do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). O estudo analisou 3 milhões de provas das edições de 2011 a 2016 e põe Teresina e Picos como as cidades do Nordeste com maior suspeita de fraudes no exame.

Segundo a pesquisa, no de 2016, 11 provas realizadas em Picos e nove em Teresina foram identificadas com respostas semelhantes. Totalizando 20 casos, o Piauí fica em primeiro lugar em suspeita de fraude no Enem.

Ranking geraç

O levantamento da Folha calculou a probabilidade de duas ou mais provas terem o mesmo padrão de acertos e de erros. Foi considerado como altamente suspeito, por exemplo, candidatos que erraram questões marcando a mesma alternativa errada (podiam ter errado escolhendo outras três opções também incorretas).

No Piauí, o candidato Justimar Leal Teixeira, 48, teve na edição de 2015 padrão de respostas muito parecido ao de 24 provas. Teixeira nasceu em Patos (PI), cidade de 6 mil habitantes. Outras duas provas suspeitas foram feitas por pessoas naturais da mesma cidade. Questionado sobre a semelhança de seu gabarito com os demais, Teixeira afirmou que “se você pegar a redação, há diferenças” —a reportagem havia questionado sobre a parte objetiva, não sobre a redação. Teixeira negou que tenha participado de esquema. “Em universo grande, podem existir [semelhanças]. Quantas pessoas fazem o Enem?”

Segundo a Folha, para encontrar conjunto de exames tão semelhantes ao acaso, seria necessário aplicar uma edição do Enem por ano desde a criação do universo (há 14 bilhões de anos). Em relação a dez dessas provas suspeitas, o gabarito dele diverge em apenas 5 das 175 questões analisadas, incluindo mais de 30 respostas erradas na mesma alternativa.

O levantamento estatístico identificou também uma estudante com prova suspeita, dentro do mesmo grupo de Teixeira, que ingressou em medicina na Universidade Federal do Vale do São Francisco, na Bahia.

O esquema 

O delegado regional da Polícia Civil em Picos, Jonatas Brasil disse que não recebeu notícia envolvendo fraude no Enem. Ao longo dos anos, a Polícia Federal e o Ministério Público Federal têm deflagrado operações que identificam quadrilhas que agem para passar respostas certas a candidatos que contratam o serviço, tanto no Enem quanto em concursos públicos.

As investigações apontam que os contratantes em geral têm interesse em ingressar em medicina nas universidades públicas. Eles chegam a pagar R$ 180 mil para receber respostas certas.

Os esquemas descobertos contavam com “pilotos”, em geral universitários ou professores, que resolviam rapidamente a prova, buscando acertar o máximo possível de questões (é quase impossível acertar as 180 perguntas). Eles, então, transmitiam as respostas para os demais candidatos, por meio de rádio ou mensagens de celular. Os clientes usavam ponto ou celular, apesar de proibidos.

A transmissão era complexa. No Enem há quatro tipos de provas, identificados por cores. A ordem das questões muda em cada cor de prova. Se um piloto resolveu a prova amarela, ele não podia simplesmente passar o gabarito para cliente com a prova azul.

Uma das possibilidades usadas pelos fraudadores foi falar no rádio a primeira palavra de cada uma das 180 questões e a palavra que indica a alternativa certa. Cabia então ao contratante encontrar essas opções em sua versão de prova.

Fonte: Folha de S.Paulo

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