Dona Quitéria dizia sofrer com as hemorragias há pelo menos oito meses

Piauí Hoje


O oftalmologista Eron Moreira, que realizou exames preliminares na agricultora Quitéria Calixto de Lima, 40, que supostamente estaria chorando sangue, explicou que com base nos exames clínicos realizados com a paciente nesta sexta-feira no Hospital Universitário Walter Cantídio, que "ela não tem nada. Trata-se de uma farsa".O que pode comprovar as afirmações do médico, é que durante à tarde, Quitéria desistiu do tratamento, e voltou para casa, alegando que "já teria sido curada por São Francisco, pois não chorava lágrimas de sangue há dois dias".As lágrimas de sangue vertidas pela agricultora Quitéria Calixto de Lima, 40 anos, são um mistério para médicos e religiosos do Cariri. Dona Quitéria sofre com as hemorragias há pelo menos oito mesesEntenda tudo - reportagem de O Povo de 10 Fev 2010Quitéria Calixto de Lima, 40 anos, não para de chorar há cerca de oito meses. Ela verte lágrimas por dois motivos. Primeiro, acredita estar gravemente doente. Segundo, o líquido que sai dos seus olhos não é composto por água, sais minerais e proteínas, mas por glóbulos brancos, hemácias e plaquetas. Sim: dona Quitéria chora sangue todos os dias. Daí a angústia.De lá para cá, a agricultora precisa da ajuda das vizinhas e da mãe para lavar a própria roupa, sempre encarnada, e esfregar o chão da casa, que vive escorregadio. ``Meus olhos não param de sangrar. É diariamente. Estou sem me alimentar e muito fraca``, fala a aposentada, por telefone. Dona Quitéria mora em Caririaçu (503 km de Fortaleza), na Januário Borges, uma rua do bairro Pernambuquinho.Nos últimos cinco dias, o número 441 da Januário vem recebendo uma pequena romaria de curiosos. Num instante, espalhou-se a história da mulher pobre de cujos olhos escorrem lágrimas de sangue. ``Já vieram padres, crentes, médicos, jornalistas. Mandaram rezar, tirar os santos das paredes. Dizem que é um mistério, que é macumba, que é milagre. Eu só quero saúde e uma casa própria``.Mistério ou não, a primeira lágrima de sangue atravessou o rosto dela em 2008. Começou com uma dor aguda nos olhos. Logo a agricultora viu escorrer um líquido ``tipo um óleo``. Dona Quitéria, que vive com o marido e dois filhos adolescentes, procurou o Hospital Santo Antônio, em Barbalha. Lá, ``eles fizeram uma tomografia facial, mas não acusou nada. Só passaram remédio pra dor``. Já no hospital São Vicente de Paulo, também no Cariri, dona Quitéria foi atendida por um oftalmologista cujo diagnóstico foi: a senhora não tem nada.O comerciante Francisco Calixto de Lima, 31 anos, relata que, quando a irmã sente dores fortes na cabeça, sai correndo pela rua, gritando. ``Temos que pegar e trazer de volta``. Francisco também diz que três ou quatro padres já visitaram dona Quitéria. Ela corrige: apenas ontem, foram dois. ``Eles trazem conforto, o coração fica mais aliviado``.Novo exameEmbora não possa visitar dona Quitéria porque tem a saúde minguada, Maria Calixto, 78, prima em quarto grau, envia mensagem pela reportagem: ``Enquanto existe vida, existe esperança. Nada para Deus é difícil``. Dona Maria mora a alguns quarteirões da casa da prima. O pequeno Cícero Calixto de Lima, 13, também está preocupado com a mãe. Diz que sai para brincar, mas logo retorna para casa. ``Eu mando ela se acalmar, digo que ela vai ficar boa``.Na última terça-feira, 9, dona Quitéria fez exame de sangue em clínica particular de Caririaçu. ``Uma senhora de Juazeiro me ajudou``. O resultado fica pronto hoje. Dona Quitéria diz que, nesse momento, não sente nada. De repente, silencia no telefone. Retoma a fala cansada para repetir o que tem sido um bordão: ``Começou a sangrar novamente``. Para dona Quitéria, ``se for algum mistério, algum milagre, eu aceito de coração. Se Deus quiser me levar, eu aceito``. Sente-se segura, protegida por um rosário atado ao pescoço, ``todo sujo de sangue``.

Fonte: Opovo

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