Povo do Axé do Piauí faz arrecadação para monumento de Iemanjá e Oxum

Foto: Divulgação

Teresina (PI) - O Movimento de Terreiros do Piauí iniciou uma campanha de arrecadação de fundos para a construção do Monumento Deusas das Águas, que será erguido no Polo Cerâmico, na zona Norte de Teresina. A iniciativa visa homenagear as divindades Iemanjá e Oxum, veneradas como orixás das Águas no panteão africano.

O projeto, liderado por integrantes do movimento e apoiado pela comunidade religiosa de matriz africana, ganhou destaque nas redes sociais, onde está sendo divulgada a arrecadação de valores para viabilizar a construção do monumento.

Povo do Axé do Piauí faz arrecadação para monumento de Iemanjá e Oxum

A primeira imagem, que representará Iemanjá, já está garantida e será confeccionada pelos artesãos locais em parceria com o movimento de terreiro. A segunda está em processo de captação de recursos, com o valor estimado de R$ 4 mil.

Ruthneia Vieira Lima, pedagoga, Diretora pedagógica da Casa Meio Norte e Sacerdote da Umbanda, destaca que o monumento é parte integrante de um projeto de revitalização promovido pela Secretaria de Cultura do Estado. O Polo Cerâmico, espaço escolhido para a instalação, foi revitalizado recentemente, e a construção do monumento agregará valor cultural à região.

“No Polo Cerâmico tem uma área que está absoluta, abandonada, e pertence a essa associação do Polo Cerâmico do Poty, às margens do rio. Foi dada a cada um dos artesões, a reforma de uma praça e de uma área esportiva, então os artesões criaram um local para fazer a exposição de suas imagens, do seu trabalho. Nós somos clientes que mais consomem os produtos de lá, porque a gente compra muita Alguidar, muita Quartinha e outros produtos da argila e compra a própria Argila”, ressalta Ruthneia.

Ruthneia Vieira Lima

A escolha das divindades Iemanjá e Oxum reflete a importância das águas tanto salgadas quanto doces para as religiões de matriz africana. O monumento, além de celebrar a espiritualidade afro-brasileira, busca promover a quebra de preconceitos e o respeito entre diferentes credos religiosos.

Pai Frazão de Xangô, diretor espiritual do Ilê Axé de Preto Velho, localizado na Vila Irmã Dulce, ressalta a importância do diálogo e do entendimento mútuo entre as diversas religiões presentes na comunidade.

“A gente abraça a questão da quebra do preconceito também. Houve todo um diálogo antes mesmo com a ideia do professor Paulo Vasconcelos, que é o grande arquiteto, quem está desenhando todo o projeto, e nós entramos em contato com a associação dos Oleiros, porque sabemos que lá também tem pessoas de outras denominações religiosas e não buscamos de forma alguma afrontar outras denominações religiosas”, diz.

Pai Frazão de Xangô

Ele enfatiza o esforço contínuo para combater o preconceito e promover a aceitação das práticas religiosas de matriz africana.

“Trabalhamos constantemente nessa quebra do preconceito porque nós religiosos de matriz africana, estamos cansados de ser demonizados por outras crenças propagando nossa fé de forma negativa, não podemos esquecer que nós somos a raiz do Brasil. Quantas vezes fomos apedrejados como o caso que aconteceu em uma escola particular, onde uma estudante preta e religiosa de matriz africana foi chamada pelos próprios colegas de macaca, macumbeira, bruxa por ter ganhado uma gincana”, ressalta.

A arrecadação de fundos está sendo coordenada pelo pix de pai Rondinele de Oxum, cujo CPF é 00229826393. A previsão é que o monumento seja entregue e inaugurado em março, com uma cerimônia de consagração que reunirá lideranças de diversos terreiros, simbolizando a união e o respeito pela diversidade religiosa.