Criança de São Raimundo Nonato controla convulsões com remédio derivado da maconha

Há dois anos a pequena Hemily faz o tratamento com canabidiol


Hemily Vitória reduziu em 90% o número de crises após o uso do canabidiol

Hemily Vitória reduziu em 90% o número de crises após o uso do canabidiol Foto: Montagem/Piauí Hoje

O uso medicinal da maconha ainda é um assunto polêmico e causa preconceito em boa parte da sociedade, principalmente pela falta de esclarecimentos acerca dos benefícios da Cannabis para a saúde. Estudos comprovam que derivados da maconha podem tratar e aliviar sintomas de diversas doenças neurológicas, incluído formas mais rigorosas de epilepsia.

Foi exatamente o uso de uma substância encontrada na maconha que mudou completamente a vida da pequena Hemily Vitória Américo Souza, de 2 anos e 9 meses, residente no município de São Raimundo Nonato, no Sul do Piauí. Há dois anos Hemily faz o uso do canabidiol (CBD) para tratar a Síndrome de West, uma forma grave de epilepsia apresentada após 10 dias do seu nascimento.

Vale ressaltar que a maconha e cânhamo são plantas da mesma espécie, a Cannabis sativa. No entanto, ambas são geneticamente distintas e geralmente utilizadas para finalidades diferentes. A maconha é baixa e espessa, já o cânhamo é alto, longo e utilizado de forma terapêutica, segundo dados da HempMeds Brasil, primeira empresa a importar produtos à base de canabidiol [medicamento produzido de um extrato da maconha] a brasileiros.

Antes do uso do medicamento, Hemily sofria com até 60 crises convulsivas em apenas um dia, hoje com o uso do canabidiol diminuiu esta média para cinco por mês.

Ana Paula Américo conta que a filha foi diagnosticada com a doença aos três meses de vida e que tentou controlar as crises com mais de dez tipos de medicamentos, porém nada resolvia até o dia em que a Ana Paula teve conhecimento da maconha medicinal em uma reportagem de TV.

“Eu já tinha tentado de tudo, minha filha não apresentava nenhuma melhora. Depois que vi uma reportagem falei com o médico dela sobre o assunto e ele disse que ainda não era hora de experimentar o canabidiol em minha filha. Depois de alguns meses, o médico disse que iria iniciar o tratamento com canabidiol, daí em diante minha filha teve uma maior qualidade de vida e melhorou em 90% a quantidade de crises”, explica a mãe de Hemily.

Hemily Vitória

De acordo com o médico de Hemily, Dr. Geraldo Ribeiro Barbosa, a garota não respondeu a nenhum tipo de anticonvulsivante disponível no Brasil. “Hemily apresenta uma epilepsia refratária e além de crises tipo espasmos epilépticos, ela apresenta atraso global do desenvolvimento neuropsicomotor. Na paciente o Canabidiol age através do controle da atividade neuronal, o que reduz a excitabilidade neuronal, ajudando no controle das crises”, explica o médico.

Ainda conforme o médico, a falta de informação gera muito preconceito e polemica sobre o uso do canabidiol no país. “Estudos precisam ser realizados no Brasil a fim de desmistificar todos os efeitos benéficos do canabidiol. Cânhamo e Maconha são plantas do mesmo gênero, mas com diferenças genéticas e na composição. O principal na diferenciação dessas duas plantas está no conteúdo de THC: maconha tem concentração de THC entre 10 e 30%. Já o Cânhamo, tem concentração mínima de THC (em torno de 0,3%) e alta concentração de canabidiol”, esclarece Dr. Geraldo.

Real Scientific Hemp-X (RSHO-X)

Medicamento

 O uso do medicamento no Brasil só é permitido com uma autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Em alguns casos, como o de Hemily, a Anvisa libera a importação do canabidiol quando a família do paciente dá entrada no processo para obter a importação do produto. É necessário apresentar a prescrição médica do CBD.

Somente em 2015 a justiça brasileira autorizou a importação do Real Scientific Hemp-X (RSHO-X), um óleo de cânhamo rico em canabidiol da empresa HempMeds Brasil.  O RSHO-X reduziu a ocorrência de convulsões em Hemily e trouxe o sorriso para menina.

Ana Paula recorreu à justiça em Brasília, que autorizou a família a importar o medicamento. O canabidiol chega à casa da família de Hemily através dos Correios. Em forma de um óleo, ele é ministrado em duas doses diárias.

A cada 12 meses, a mãe de Hemily precisa enviar a documentação à Brasília para ter o direito de importação renovado perante a Anvisa. A Justiça brasileira não libera a venda do medicamento Brasil e nem sempre outras famílias conseguem obter autorização para importar.

Custos

Após conseguir a liberação do medicamento, a família passou a enfrentar outra dificuldade. O custo do medicamento é alto e varia de acordo com o valor do dólar. Atualmente cada tubo custa de R$ 1 mil a 1,2 mil reais, o custo mensal é de R$ 3 mil.

A família de Hemily não conta com a ajuda de ninguém para custear o tratamento, nem mesmo do Estado. Ana Paula conta que já acionou a justiça para conseguir algum auxílio para arcar com os custos, mas foi negada todas as vezes.

“Já tentei o INSS, já tentei outros meios, mas eles alegam que o que ganho é suficiente para manter o tratamento. O que recebo dá para comprar apenas um tubo do canabidiol”, diz Ana Paula.

A família disponibilizou dados bancários para quem desejar ajudar no tratamento da pequena Hemily. 

Agência: 0728

Conta: 00100792-0

Poupança Caixa Econômica Federal: Operação 013

Favorecido: Ana Paula Américo Santos

“Minha filha também tem paralisia cerebral, ela ainda não fala, não anda, mas comparado com as outras crianças que enfrentam o mesmo problema, ela está bem desenvolvida. O canabidiol mudou a nossa vida, hoje ela sorre e dorme tranquilamente”, comemora a mãe.

Outros benefícios do canabidiol

Ainda conforme o Dr. Geraldo, o canabidiol tem propriedades anti-inflamatórias, analgésicas, anticonvulsivantes, anti-oxidantes, imunes e antitumorais. O medicamento tem também tem efeitos na modulação da emoção, da memória e da motivação, além de propriedades úteis no controle de náuseas e vômitos.

“Há também estudos em algumas doenças neurodegenerativas como doença de Alzheimer, evidenciado o papel protetor do canabidiol no sistema nervoso”, diz o médico.

O médico ressalta ainda que o CBD não causa dependência. “Contrariamente ao THC (tetrahidrocanabinol), que tem propriedades psicoativas (mesmo tendo importantes propriedades terapêuticas), canabidiol não ativa receptores CBD1, não sendo, portanto, psicoativo, é bem tolerado, não causa dependência, e exibe um amplo espectro de propriedades terapêuticas”, conclui.

Fonte: Alinny Maria

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