Economia

Com maior inadimplência, restrição de crédito para empresas continua alta

Após bater recorde em outubro, as taxas cobradas pelos bancos para emprestar às empresas recuaram um pouco no mês passado

Sábado - 24/12/2016 às 16:12



Foto: Reprodução Banco Central
Banco Central

Após bater recorde em outubro, as taxas cobradas pelos bancos para emprestar às empresas recuaram um pouco no mês passado, mas continuaram próximas dos patamares mais elevados desde que o Banco Central começou a divulgar estatísticas sobre o assunto, em março de 2011.

Segundo o BC, o spread bancário –diferença entre as taxas de juros que os bancos pagam ao captar recursos e as que cobram ao emprestar– caiu para as empresas de 18,9 para 18,2 pontos percentuais em novembro, voltando aos níveis de junho.

Além de incluir parte dos ganhos que os bancos têm com os empréstimos, os spreads refletem o risco de inadimplência e seus custos operacionais. O patamar elevado para empresas reflete a maior cautela diante da recessão que o país enfrenta desde 2014, que afeta o fluxo de caixa das companhias e tem levado muitas delas a entrar com pedido de recuperação judicial, mecanismo que permite renegociar as dívidas em condições mais vantajosas.

 Apesar de continuar em níveis elevados, o spread das pessoas jurídicas ainda segue bem abaixo do de pessoas físicas, que atingiu 61,2 pontos percentuais em novembro.

Enquanto o spread disparou, as concessões de empréstimos caíram ao longo do ano. Linhas de capital de giro, às quais as empresas recorrem para manter suas operações, recuaram 34,7% em novembro em relação ao mesmo mês de 2015. Contas garantidas tiveram queda de 21,5% e cheque especial, de 16,2%.

A redução dos empréstimos para empresas foi observada nos quatro maiores bancos do país –Itaú Unibanco, Banco do Brasil, Bradesco e Santander–, de acordo com os balanços mais recentes, do terceiro trimestre do ano. Na Caixa Econômica Federal, a concessão de crédito teve crescimento tímido, de 2,9%.

Questionados sobre o motivo do recuo, apenas Itaú, Banco do Brasil e Santander responderam. A razão apontada foi a falta de demanda das empresas, que estão muito endividadas e não têm feito investimentos na crise.

 ENDIVIDADAS

A asfixia financeira das empresas tem contribuído para atrasar a retomada da atividade econômica. O país entrou na atual recessão em 2014, e os economistas preveem que saia dela em 2017. Dados do birô de crédito Serasa Experian mostram que a procura por crédito caiu 11,4% em novembro, em relação ao mesmo mês de 2015.

Para Godofredo Barros, presidente da empresa de recuperação de crédito Ipanema Credit Management, parte da queda foi motivada pela constatação das próprias empresas de que não têm condições de tomar mais empréstimos. "A oferta caiu porque as empresas estão endividadas, têm restrição na praça e sabem que não conseguem acessar o crédito porque não têm capacidade de tomar mais dívida", disse Barros.

O professor José Pereira da Silva, da Escola de Administração de Empresas da FGV (Fundação Getulio Vargas), também vê o alto nível de endividamento das companhias como principal limitador. "As empresas de menor porte estão demandando recursos, mas sabem que possuem um risco maior do que o aceitável pelos bancos. Então, neste sentido, não existe oferta de recursos porque os bancos estão sendo extremamente cuidadosos", afirmou. A preocupação encontra respaldo nos índices de inadimplência.

Em novembro, a taxa de atrasos superiores a 90 dias alcançou 5,4% das operações de crédito, maior nível da série histórica do BC. No acumulado do ano até novembro, os pedidos de recuperação judicial de empresas cresceram 51% em relação ao mesmo intervalo de 2015.

As perspectivas para retomada nas concessões de crédito não são as melhores, disse Roque Pellizzaro Junior, presidente do SPC Brasil. "O ano de 2017 deverá ser igual ou pouca coisa melhor que 2016. O segundo semestre apresenta grande possibilidade de melhora, mas hoje no Brasil a gente dorme pensando em uma coisa e acorda em uma outra realidade."

Fonte: Folha de São Paulo

Siga nas redes sociais

Compartilhe essa notícia: