A Polícia Rodoviária Federal, Superintendência Regional do Piauí, realiza estudo sobre os acidentes de trânsito registrados nas Rodovias Federais deste estado. Esta iniciativa tem por base traçar o perfil dos acidentes com o fim de implementar ações que visem à sua redução a partir da otimização dos meios materiais e humanos de que dispõe.

O sistema de vias federais que servem ao Estado do Piauí, no tocante a rodovias, perfazem um total 09 (nove) que representam uma extensão de 2.357,3 Km (Fonte: Plano Nacional de Viação/DNIT, versão 2011), e são identificadas por BR 020, 135, 222, 230, 316, 343, 402, 404 e 407. Em relação às estradas não pavimentadas e planejadas alcançam o número de 04 (quatro), representando uma extensão de 2.050,9 Km e são identificadas por BR 226, 235, 324 e 330.

O estudo se debruçou sobre os acidentes registrados no ano de 2011, até a data de 14/06/2011, atingindo, portanto, a análise, os primeiros 165 dias do ano em curso. Considerando a data limite apresentada, o banco de dados da PRF registra para as rodovias federais do Estado do
Piauí um total de 1.233 acidentes, 721 feridos e 103 mortos. A seguir o estudo analisa alguns parâmetros previamente escolhidos que propiciaram uma radiografia dos acidentes de trânsito nas rodovias federais do estado do Piauí.

ACIDENTE POR UNIDADE ADMINISTRATIVA
Inicialmente, distribui-se as ocorrências fatais pelas cinco Unidades Administrativas que formam as Delegacias Regionais da PRF no Piauí. A que apresentou maior número de mortes foi a Delegacia de Teresina, com 42; depois a de Picos, com 35; a de Floriano aparece a seguir com 14; com 06 vitimas fatais cada uma, igualam-se as Delegacias de Piripiri e Parnaíba. Ressalta-se que as Delegacias de Teresina e Picos, com maior número de vítimas fatais, administram 03 postos de fiscalização cada uma e estão encravados nas Rodovias de maio volume de tráfico do estado que são as BR 316 e 343.

ACIDENTE POR RODOVIA
As rodovias que concentram os maiores números de vítimas fatais são exatamente as Rodovias BR 316 (48 mortes) e 343 (32 mortes), seguidas da BR 020 (10 mortes) e BR 135 (07 mortes). Somente as BR\'s 316 e 343 respondem por 77% do total de mortes em 2011. Esta são as rodovias onde se constata o maior fluxo de veículos em circulação. A BR 343 faz a ligação da capital Teresina com as povoadas cidades do norte piauiense. É utilizada como meio de ligação entre o Pará e Maranhão e outros Estados do Nordeste como Ceará e Rio Grande do Norte. A BR 316 permite o intercâmbio entre o centro-norte e o sul do Estado do Piauí. Funciona como corredor de tráfego para o trânsito de veículo, notadamente de carga, entre Pará e Maranhão e Pernambuco e Bahia.

ACIDENTE POR TIPO
Os tipos de acidentes que mais vitimaram fatalmente nas rodovias federais no ano de 2011 são Colisão Frontal: 33 mortes; Atropelamento de Pessoa: 13 mortes; Colisão Lateral: 12 mortes Colisão Traseira: 09 mortes. A colisão frontal é responsável por 32% das mortes nas rodovias federais do Piauí neste ano. É sabido que o tipo de acidente que mais mata é resultado de manobra mal sucedida de ultrapassagem ou trânsito na contramão de direção. 99% por cento das rodovias federais no Piauí são do tipo Pista Simples com duplo sentido de circulação.

Temos apenas 25,6 quilômetros de pista duplicada, que se resume às áreas urbanas das cidades. O formato pista simples com circulação nos dois sentidos potencializa o acidente tipo colisão frontal quando o condutor desrespeita a sinalização proibitiva de ultrapassagem. A pressa, a ansiedade e a impaciência, também. Um dado levantado pelo estudo dá conta de que foram necessários 53 acidentes tipo colisão frontal para produzir 33 mortes. Por outro lado, 331 acidentes do tipo colisão traseira provocaram a morte de 09 pessoas. Desta forma, aproximadamente a cada dois acidentes tipo colisão frontal tem-se uma morte. Já a colisão traseira produz uma morte a cada 37 acidentes. Isto demonstra a necessidade de se cercar o motorista de todos o cuidados por ocasião da realização de manobra de ultrapassagem, realizá-la sempre que a sinalização permitir.

ACIDENTE POR CAUSA
A falta de atenção dos motoristas sobressai-se como a principal causa de acidentes de trânsito nas rodovias federais no Piauí. Em 2011 já provocaram a morte de 31 pessoas, o que representa 30% das ocorrências totais de morte. Depois vem a Velocidade incompatível com 08 mortes, sono ao volante com 06 e ingestão de álcool com 02. São apontados como meios provocadores da desatenção do motorista ao volante a conversa ao celular, manuseio de aparelho de som/vídeo automotivo, uso de cigarro e conversas paralelas. São aparentemente irrelevantes a velocidade incompatível e ingestão de álcool como agentes causadores de acidentes quando comparados com a falta de atenção.

Todavia, não é possível dissociar estes dois elementos, velocidade excessiva e bebida alcoólica, dentre os principais causadores de acidentes de trânsito. Os acidentes mais graves, relacionados a vítimas fatais, invariavelmente envolvem condutores dirigindo em velocidade acima da permitida ou sob efeito de bebida alcoólica. Ocorre que a prova para confirmação desses excessos nem sempre é possível de ser obtida por ocasião do acidente. Administrativamente, admite-se a presunção de veracidade dos atos do agente público. No âmbito criminal, isto não é possível. Não se incrimina
ninguém com base em indícios. Daí porque velocidade incompatível e ingestão de álcool aparecem com índices pouco expressivos quando se avalia a causa de acidentes.

ACIDENTE POR FASE DO DIA
Do total de 103 mortes já registradas este ano, 66 ocorreram no período noturno, o que representa 64%. No período diurno ocorreram 37 (36%). Não é exagero dizer-se que quem viaja à noite está mais sujeito a envolver-se em acidente. A direção noturna impõe maiores riscos à condução de veículo automotor. A redução da visibilidade exterior por ofuscamento provocado por farol alto predispõe o acidente. Animais soltos sobre a pista de rolamento são de mais difícil visibilidade noturna. É nos deslocamentos noturnos que se verifica maior incidência de sono ao volante, uma das causas de acidentes de incidência significativa.

ACIDENTE POR SEXO
Os acidentes de trânsito ocorridos nas rodovias federais em 2011 matam mais homens que mulheres. Neste ano já morreram 81 pessoas do sexo masculino, para apenas 22 do sexo feminino. Em relação ao registro total de mortes, os homens correspondem a 79%.

Diga-se de  passagem, os acidentes de trânsito, enquanto parcela da violência que atinge mais aos homens, tem sido causa da redução na expectativa de vida da parcela masculina em relação à feminina, segundo dados do IBGE (69,11 anos para homens e 76,71 anos para mulheres – dados de 2008). Os números apresentados nesse parâmetro de análise levam à constatação de que o público feminino costuma dirigir com prudência e em respeito às regras que disciplinam o trânsito.

ACIDENTE POR TIPO DE VEÍCULO
As mortes por acidente de trânsito nas rodovias federais no Piauí no presente ano, quando avaliado o tipo de veículo, revelam que as motocicletas matam mais que os demais veículos. Nos primeiros 165 dias deste ano foram vitimados fatalmente 41 ocupantes de motocicletas, 40% do total de mortes. A seguir, em segundo lugar, os automóveis com 25 mortes e camionetas com 08.

A supremacia dos números de mortes envolvendo motos credita-se à vulnerabilidade natural dos ocupantes deste tipo de veículo; à recusa de parcela considerável em usar o capacete de segurança; ao crescente número de motos que passam a circular nas vias públicas; ao elevado número de condutores inabilitados (55.000 – Anuário estatístico Detran/PI de 2009); ao reduzido número de órgãos municipais de trânsito (dos 224 municípios piauienses, somente oito contam com a disciplina no trânsito por órgão municipal).

ACIDENTE POR FAIXA ETÁRIA
Pessoas na faixa etária dos 20 aos 39 anos representam o maior número de mortes em acidente de trânsito nas rodovias federais do Piauí. Em 2011 já foram registradas 52 mortes em que a idade das vítimas fatais pertencia a esta faixa, o que corresponde a 50% do total de sinistros. É um dado revelador da gravidade dos acidentes de trânsito já que estão sendo dizimadas pessoas em pleno potencial produtivo para o trabalho. É o país vendo desaparecer sua força economicamente ativa. Sem falar no drama das famílias que, em muitos casos, se veem prematuramente desamparadas do ente provedor do sustento familiar.

ACIDENTE POR DIA DA SEMANA
Segundo já demonstrado, nos primeiros 165 de 2011, 103 pessoas perderam a vida em acidente de trânsito nas rodovias federais no Estado do Piauí. Desse total, 61 mortes (60%) em acidentes ocorrido no denominado final de semana (sexta-feira, sábado e domingo). 

Somente os sábados respondem por 30 mortes. É impossível não estabelecer uma correlação entre o maior número de acidentes com mortes no final de semana e a direção sob efeito de álcool. É hábito dos motoristas se deslocaram ao lazer, fazerem uso de bebida alcoólica e pegarem na direção de seus carros para dirigir na via pública.

Em que pese o rigor das disposições legais implantadas pela “Lei Seca” (Lei 11.705/08), muitos condutores ainda dirigem embriagados. Submetem, nessas condições, a si próprio e a terceiros, ao risco potencial de envolver-se em acidente, atentando contra sua própria vida e de outros usuários
da via pública.

ACIDENTE POR TRAÇADO DA VIA
Em relação ao traçado da via, os acidentes nas rodovias federais do Piauí ocorrem em reta, curva e cruzamento. Contrariamente ao que se poderia imaginar, os acidentes com mortes predominam nas retas.

Neste ano, no período do estudo, já foram registrados 77 mortes por acidente em reta, o que faz representar 75% do total (103 mortes). A seguir, no distante segundo lugar aparece acidente em curva com 24 mortes e cruzamento com 02 mortes.

Em verdade, é nas retas que o motorista presume haver maior segurança para exceder os limites de velocidade e dar vasão à pressa, à ansiedade, ou simples desejo egocêntrico de demonstrar aos demais companheiros de viagem todo o potencial de sua poderosa máquina de exterminar pessoas.

Ledo Engano. Como já dito, a conformação predominante de rodovias do tipo pista simples, com duplo sentido de circulação, por si só, representam risco potencial ao acidentes de trânsito, ainda que a velocidade de circulação obedeça aos padrões determinados pela Engenharia de Tráfego. Estando acima da máxima permitida, a possibilidade de envolver-se em acidente aumenta na proporção do excesso verificado em relação ao padrão estabelecido.

É nas retas que se verifica, ainda, o cansaço, a fadiga, que levam à perda da concentração, ao
sono e eventual envolvimento em acidente.

AÇÃO DE COMBATE AOS ACIDENTES
A Polícia Rodoviária Federal, enquanto órgão cuja principal atuação está relacionada à preservação da vida, certamente não está a assistir as pessoas se matarem em acidentes nas rodovias. Sua atuação está voltada para a área educativa, tratando a prevenção, bem como a área repressiva, punindo os infratores da legislação de trânsito, potenciais causadores de acidente.

A educação do motorista tem início na formação. É nos Cursos de Formação de Condutores que são forjados os bons motoristas. Nada impede que os órgãos e entidades de trânsito desenvolvam trabalhos de educação visando à conscientização para o respeito e cumprimento das normas que disciplinam o trânsito. Afinal, a educação para o trânsito é dever prioritário para os componentes do Sistema Nacional de Trânsito, conforme estabelece o Código de Trânsito Brasileiro, no capítulo Educação para o Trânsito.

A PRF/PI tem atendido a inúmeros pedidos de escolas, empresas e demais órgãos e entidades da sociedade civil organizada para realização de palestras voltadas para a educação para o trânsito, dispondo de corpo de palestrantes especialmente para esse fim A ação de policiamento e fiscalização ao longo das rodovias federais no Estado do Piauí realizado pelo PRF tem reprimido as infrações de trânsito notadamente aquelas potencialmente capazes de levar a acidente de trânsito. Pesquisa nos bancos de dados relativos às multas demonstrou haver sido aplicado no mesmo período definido para estudo dos acidentes (janeiro a 14 de junho/2011) 33.614 multas distribuídas pelos mais diversos tipos de infração de trânsito.

As mais expressivas se relacionaram ao Excesso de Velocidade: 13.268 multas; Motociclista e Passageiro sem Capacete: 4.718 multas; Dirigir veículo sem possuir carteira de motorista: 2.150 multas; Ultrapassar em local proibido: 1385 multas; Dirigir embriagado: 310 multas.

Ressalte-se que das 310 multas por embriaguez, 117 resultaram em prisão dos condutores que foram conduzidos ao Distrito Policial para abertura de inquérito que apurará o crime de embriaguez ao volante. O presente estudo é capaz de revelar que mesmo com as ações desenvolvidas no âmbito da prevenção, com trabalho educativo, bem como da repressão, com punição ao infratores, os acidentes e mortes continuam em ascendência. Dados do Ministério da Saúde contabilizam 40
mil mortes por acidente de trânsito no país. Pesquisa do Ipea resultou na constatação de que a Nação tem um gasto aproximado de 30 bilhões/ano em razão dos acidentes de trânsito. O sistema SUS tem sido perversamente impactado pela irrefreável violência no trânsito.

Estes números não podem assumir a caracterização da banalidade. Devem representar preocupação e apreensão não só para os órgãos e entidades de trânsito, mas para a sociedade brasileira como um todo. É oportuno, agora mais do que nunca, o envolvimento das escolas trabalhando a formação do aluno em relação à massificação das regras de comportamento no trânsito.

Os pais precisam adotar postura de comprometimento com as normas de trânsito, notadamente na presença dos filhos, futuros motoristas. Nada é mais eficaz para a redução de acidentes e mortes no trânsito do que a atitude do motorista. O comportamento submisso ao cumprimento da legislação de trânsito. 

Os altos índices de mortalidade no trânsito chamou a atenção da Organização das Nações Unidas (ONU) que decidiu emitir uma a Resolução A/64/L44 proclamando o período de 2011 a 2020 com a “Década de Ações para a Segurança no Trânsito”, Dados da Organização Mundial de Saúde contabilizam 1,3 milhão de mortes em 178 países. O Brasil está desconfortavelmente colocado na 5a. posição, atrás apenas da Índia, China, EUA e Rússia.