Brasil

Um dia após violência policial, PM reafirma práticas e entidades civis protestam

Terça - 06/09/2016 às 13:09



Foto: SEBASTIAO MOREIRA EFE Policiais militares do Choque atuam para dispersar o protesto contra o Governo Temer no Largo da Batata, em São Paulo, no domingo, dia 4.
Policiais militares do Choque atuam para dispersar o protesto contra o Governo Temer no Largo da Batata, em São Paulo, no domingo, dia 4.

Foram quatro horas de caminhada pacífica pelos cinco quilômetros que ligam a avenida Paulista ao Largo da Batata, em São Paulo, no protesto contra o Governo do presidente Michel Temer no domingo, dia 4. No trajeto, manifestantes enchiam os pulmões para gritar melodiosamente "que coincidência, não tem polícia, não tem violência". Mas houve violência. Quando a marcha já tinha acabado, a Polícia Militar usou bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar a multidão já de saída. Oficialmente, a corporação afirma ter reagido a atos de vandalismo, ainda que a reportagem do EL PAÍS e outros órgãos da imprensa presentes no local não tenham testemunhado nenhum episódio relevante e que vídeos publicados na redes sociais coloquem em xeque a versão. Mas se houve depredação, como reafirmou nesta segunda-feira o governador Geraldo Alckmin(PSDB), não haveria outra forma de lidar com a situação sem expor a riscos os demais manifestantes (cerca de 100.000, segundo os organizadores, ou 30.000, segundo a polícia)?

A Polícia Militar diz que não. Argumenta que agiu para "preservar vidas" na estação Faria Lima de metrô, onde um princípio de tumulto por volta das 22h deu início à ação policial, segundo o comandante do policiamento da capital, Dimitrios Fyskatoris. Em entrevista coletiva nesta segunda, o comandante disse que "não reconhece nenhum excesso" da PM e afirmou que desde o início do protesto integrantes da tropa "foram alvo de pedradas, latas e garrafas" jogados pelos manifestantes —embora ele reconheça que nenhum policial tenha ficado ferido, conforme informou a repórter Marina Rossi. “O fato é que tem depredação e ainda quer passar a história de que a polícia que é culpada”, disse o governador Geraldo Alckmin.

Entretanto, entidades da sociedade civil e especialistas ouvidos pelo EL PAÍS discordam da versão oficial. Veem na ação um uso de força desproporcional e injustificável e acusam a corporação de agir com truculência, sob o respaldo do Governo estadual, agora alinhado com o Palácio do Planalto, o que coloca em risco um direito civil garantido pela Constituição, o de liberdade de expressão e de protesto. "Tem se tornado uma espécie de protocolo de atuação da Polícia Militar, ratificada pelas autoridades, o emprego desproporcional da força para restringir o direito às manifestações, e isso não é de hoje. Ao invés de proteger, a Polícia Militar criou pânico e, mais que isso, torna-se um fator provocador de violência", disse ao EL PAÍS Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional Brasil. A organização não governamental já havia criticado a repressão policial, na semana passada, aos atos contra o impeachment de Dilma Rousseff, ainda mais marcados pelo clima tenso entre manifestantes e policiais e pela ação de grupos minoritários adeptos da tática black bloc, que pregam desobediência civil por meio de destruição do patrimônio. Agora, a Anistia Internacional e outras ONGs ligadas à defesa dos direitos humanos, como a Conectas e o Artigo 19, voltaram a denunciar o que chamam de "criminalização das manifestações". O cúpula policial do Estado sofreu ainda outro revés, com a ordem da Justiça para soltar 26 manifestantes presos antes do ato em São Paulo por avaliar ter se tratado de um "prisão irregular".

Fonte: El País

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