Cedo da noite, o carro de som já rodava Quixadá chamando o povo. O motivo era o mais novo capítulo no impasse entre os dois bispos da cidade: uma manifestação em favor de dom Adélio Tomasin, o bispo emérito do município.O local do protesto foi a praça em frente à Catedral de Quixadá, que fica ao lado da residência episcopal, onde vive o atual bispo, dom Ângelo Pignoli, o alvo da manifestação de ontem.As pessoas que chegam segurando a bandeira ``Fica, dom Adélio`` são as mesmas que carregam a faixa ``Fora, dom Ângelo``. A dissidência na diocese de Quixadá teve seus primeiros momentos em outubro de 2009, quando dom Ângelo decidiu realizar uma auditoria nas contas da Faculdade Católica, que tinha dom Adélio como chanceler - renunciou na semana passada.Foi a falta de informações e a possibilidade de dom Adélio deixar a cidade que moveram os manifestantes de ontem. ``O nosso medo é de que ele vá embora e se acabe isso tudo aqui``, diz o mototaxista Narciso dos Santos, o Paguá, enumerando benefícios à cidade que teriam sido proporcionados pelo trabalho do religioso.A chegada de dois jornalistas italianos à cidade atiçou os burburinhos que correm à solta. Os dois vieram conhecer a cidade e escrever sobre Quixadá para a National Geographic, mas todo mundo se pergunta se a vinda deles tem algo a ver com a polêmica envolvendo os dois bispos italianos.SilêncioTanto que, depois de ver a conversa com um dos jornalistas italianos, uma senhora puxa o braço da repórter. ``Ele disse se dom Adélio vai ficar?``, indaga, um misto de curiosidade e ânsia. E inicia seu relato.Mas o questionamento é interrompido pelo barulho. Quem está a pé faz zoada com apito. E começa a provocação. Os adeptos do movimento pró-dom Adélio vão gritar em frente à casa de dom Ângelo. Portão trancado, só as luzes da área externa estão acesas.Dom Ângelo não se manifesta. Não reage à população nem atende à imprensa. Um caminhão adentra a rua e vira palco de depoimentos em prol de dom Adélio. ``Ele, sim, é o eterno bispo de Quixadá``, começa o homem, de cima do caminhão. É outra cena da guerra santa que se tornou o impasse em Quixadá.
Fonte: Opovo
Siga nas redes sociais
Compartilhe essa notícia:
