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Ativistas temem impunidade em casos de injúria racial na internet

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Quinta, 07/05/2015 às 14:05



Foto: correioweb a jornalista Cristiane Damacena
a jornalista Cristiane Damacena
Pouco depois de ser xingada em uma página na rede social, a jornalista Cristiane Damacena registrou ocorrência de injúria racial na 26ª Delegacia de Polícia, em Samambaia. Ela sofreu diversas ofensas nos comentários de uma foto dela publicada em redes sociais em 24 de abril. Depois dos comentários racistas, milhares de pessoas deixaram recados de apoio à jovem. Até o fim da noite de ontem, mais de 12 mil pessoas haviam comentado a imagem. Para movimentos negros, a preocupação é de que os autores dos xingamentos não sejam punidos. A Polícia Civil, no entanto, garante que é possível chegar a todos os criminosos que praticam crimes on-line. Nos últimos três anos, a Secretaria de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos registrou 944 casos de injúria racial.

O caso de Cristiane começou a ter repercussão no último fim de semana, quando um homem começou os xingamentos na foto dela. Entre os recados deixados por ele, estão “macaca feia da p…”, “escrava”, “sorriso de m…” e “modelo da senzala, só se for”. Logo depois, muitos internautas se mobilizaram e reprovaram a atitude. A jornalista procurou a Polícia Civil ontem, mas preferiu não dar entrevistas. Pessoas ligadas a ela informaram apenas que toda a família está abalada.

Ativista do movimento negro, Dalila Negreiros teme que o crime contra a jornalista fique impune. Segundo ela, os atos racistas têm sido cada vez mais frequentes nas redes sociais. “O caso da Cris, infelizmente, é apenas mais um. Toda vez que uma pessoa negra é noticiada, há comentários racistas. Temos percebido um aumento grande. Queremos que haja investigação efetiva, principalmente, porque é difícil em casos de crimes na internet”, reclama. Integrante do Nosso Coletivo Negro, Dalila afirma que os grupos dão apoio a Cristiane e acompanharão as investigações. “A mídia deu destaque para a história dela, mas diversas pessoas sofrem isso diariamente e cancelam contas, saem das redes sociais. Não é um caso isolado. Há grupos que se organizam para atacar não só negros como mulheres e gays”, conta.

A secretária adjunta da Semidh, Vera Araújo, afirma que entrará em contato com a vítima para oferecer apoio no processo. Segundo ela, a pasta pretende ampliar o atendimento do Disque-Racismo (156). “Queremos aumentar o alcance das políticas de combate ao racismo. Não podemos aceitar que não aceitem as outras pela cor”, afirma.

O diretor da Divisão de Comunicação (Divicom) da Polícia Civil do DF, Paulo Henrique de Almeida, ressalta a importância de as vítimas procurarem a delegacia de polícia para registrar a ocorrência. Segundo ele, a investigação de crimes ocorridos pela internet é um pouco diferente e requer mais tempo, pois é preciso vários intermediários para se chegar ao criminoso. “Mas identificamos. Orientamos que as pessoas imprimam a página com os comentários o quanto antes, pois eles são facilmente apagados. Qualquer delegacia do DF está habilitada para receber essas denúncias.”

Responsável pelo Núcleo de Enfrentamento à Discriminação (NED), o promotor Thiago Pierobom ressalta que a injúria racial é crime e quem a pratica pode ficar até três anos preso. “As pessoas têm a falsa impressão de que podem falar o que querem, especialmente na internet. Mas elas deixam vestígios que ajudam nas investigações.”


Memória

2014
14 de fevereiro — A manicure Tássia dos Anjos, 22 anos, trabalhava em um salão de beleza, na 115 Sul, quando sofreu agressões verbais por parte de uma das clientes, a australiana Louise Stephanie Garcia Gaunt. A acusada a chamou de “raça ruim” e foi presa em flagrante. No mesmo dia, a cobradora Claudinei Gomes, 33 anos, foi vítima de insultos racistas por parte de uma passageira.

2013
2 de junho — Nathércia de Andrade Rabelo foi presa ao agredir verbalmente funcionários de uma padaria da Asa Sul. Segundo as vítimas, ela não concordou com o preço cobrado por um suco e gritou que os atendentes “eram negros que queriam roubá-la”.

2012
29 de abril — O médico Heverton Menezes chegou atrasado à bilheteria do cinema, em um shopping na Asa Norte e queria passar à frente de quem estava na fila. Diante da recusa da bilheteira Marina dos Reis, ele a agrediu verbalmente: “Seu lugar não é aqui, lidando com gente. Você deveria estar na África, cuidando de orangotangos”.

2012
22 de março — Após receber quase 70 mil denúncias, a Polícia Federal prendeu dois homens que planejavam um ataque a estudantes de ciências sociais da UnB. Por meio de um site, o ex-estudante da instituição Marcelo Valle Silveira Mello e o especialista em informática Emerson Eduardo Rodrigues postaram mensagens combinando o suposto massacre.

Fonte: correioweb

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