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Vestibular
A reprovação no vestibular não é o fator principal da baixa presença de alunos de escola pública na USP. A maior parte desses estudantes nem sequer se inscreve na Fuvest.
As causas para essa "autoexclusão" são, segundo profissionais do setor, o grau de dificuldade da prova, a falta de ações afirmativas mais amplas e até o desconhecimento sobre a universidade. A pesquisa Datafolha com jovens da Grande São Paulo mostra que 16% prestaram vestibular, mas somente 5% tentaram a USP.
O nível socioeconômico do calouro –e do candidato– é bem mais alto do que o da média populacional. Enquanto as famílias com renda acima de dez salários mínimos mensais representam 9% da população do Estado de São Paulo, o último vestibular teve 24% de inscritos com esse perfil. Entre os estudantes aprovados, a diferença foi ainda maior, 29%.
Aluna de escola estadual, Sarah Jennifer de Souza, 17, queria cursar ciências sociais na universidade. Estava confiante, mesmo sabendo que a competição seria dura, mas seu pedido de isenção da taxa de inscrição foi negado por falta de algum dos documentos exigidos. Como não tinha os R$ 160 da taxa, a adolescente ficou fora do processo.
"Eu, que não tenho dinheiro, provavelmente vou ter de pagar faculdade, enquanto o filhinho de papai vai fazer tudo de graça", diz. Sarah vai tentar vaga pelo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) na própria USP e em universidades federais.
O Enem é gratuito para todo concluinte do ensino médio público. A USP oferece desconto na taxa de inscrição da Fuvest, que varia de 50% a 100%, para quem comprovar que não pode pagar –8,3% dos 136 mil inscritos de 2017 ficaram isentos.
Sarah conta que, nas escolas em que estudou, a USP era uma referência distante. "Eu só conheci um menino que entrou na USP, mas ele fez cursinho o ano inteiro." Próreitora de Graduação da universidade entre 2010 e 2013, Telma Zorn acredita que a falta de informação é muito grande. "Muitos estudantes não sabem que a universidade é gratuita ou acham que a USP não é pra eles. Eles têm acesso às questões da Fuvest e acham que não são competentes", afirma. À frente da próreitoria, Telma Zorn investiu em um programa chamado Embaixadores da USP, que levava universitários para desenvolver atividades em escolas públicas. O programa foi interrompido pela atual gestão, do reitor Marco Antonio Zago, para, segundo a universidade, ser reformulado.
O economista Sérgio Custódio, presidente do MSU (Movimento dos Sem Universidade), refuta a ideia de "autoexclusão". "A expectativa de estudar na universidade pública é muito alta, mas a ilusão e a frustração criam seu próprio mercado." Ele critica o fato de a USP ignorar a lei de cotas que vigora nas federais. "Confundese mérito com passar no vestibular." A aposta da atual administração para aumentar a inclusão é o Enem. O processo começou no vestibular de 2016, quando cada faculdade da USP definiu sua política de reserva de vagas.
No atual processo seletivo, 21% das vagas serão preenchidas com base nas notas do exame nacional, sem necessidade de prestar Fuvest. Parte dessa cota (16% do total) será destinada a egressos da rede pública de ensino.
Faculdades como a de economia e a de arquitetura reservaram 30% das vagas para alunos de escola pública. A Escola Politécnica decidiu destinar 10% das matrículas para o Enem, mas sem reserva para a rede pública. A Medicina não aderiu a nenhuma das propostas e manteve sua seleção apenas pela Fuvest.
Aluno de matemática na USP, Moisés Sakai, 20, morador do Capão Redondo, desconhecia a existência de universidade pública até o segundo ano do ensino médio. "Achava que era tudo pago. Não sabia como era a Fuvest, como funcionava o Enem. Não tinha contato com isso."
O cenário mudou quando seu padrasto recomendou que fizesse um curso técnico no bairro vizinho, o Jardim Ângela (zona sul de São Paulo). "Lá comecei a conviver com pessoas que diziam 'estamos estudando para o vestibular', um pessoal mais direcionado", conta.
Sakai se formou como técnico em contabilidade na instituição e passou, sem cursinho, na USP. "Nunca me senti excluído socialmente lá, mas os professores não querem saber quem fez escola particular ou pública, partem do princípio que já sabemos as matérias [do colégio]", diz.
Fonte: Folha de São Paulo
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