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Abba marcou uma geração de fãs pelo mundo

Piauí Hoje

Domingo - 28/03/2010 às 04:03



Estocolmo - Em The winner takes it all, o sentimento é de perda de um amor para outra pessoa e a solidão da derrota. Em seguida, Super trouper traz a alegria do recomeço com uma nova paixão. As músicas do grupo sueco Abba são trilha sonora para a vida de muitas pessoas. Mesmo enraizados na Europa, fazendo poucas viagens para shows, os compositores e cantores conseguiram conquistar o público de todos os continentes. Emplacaram Chiquitita como megassucesso na América do Sul, onde nunca pisaram durante o auge do grupo na década de 1970.Agnetha, Björn, Benny e Anni, o Abba, viveram juntos o amor, o casamento, o trabalho, o sucesso na música, as divergências, a separação dos casais e o fim do grupo. The winner takes it all (O vencedor leva tudo) foi composta por Björn Ulvaeus em meio à separação da loira Agnetha Fältskog. Um fim composto por ele e cantado por ela. "Sim, um pouco do meu divórcio está naquela música. Um sentimento profundo de tristeza, apesar de as coisas não terem ocorrido de forma tão literal", lembra ele. Maso olhar perdido que volta ao passado logo dá lugar a um sorriso, quando ele completa: "Mas logo depois compus Super trouper, já para minha segunda esposa. Quando a conheci, depois da separação, ela foi minha grande inspiração".O Abba ficou junto por quase 10 anos, separando-se em 1982. Mesmo com o casamento desfeito, a união de Björn e Agnetha na música continuou ainda por três anos. Benny Andersson e a morena Anni-Frid Lyngstad também se separaram. A empatia musicial de Björn e Benny resistiu e eles continuam trabalhando juntos em alguns projetos musicais. Mas, de forma diferente, não buscam holofotes nem entrevistas. Björn, no entanto, aceitou conversar com a jornalista brasileira que estava em Estocolmo. Parecia mais interessado em fazer perguntas do que em respondê-las, apesar de simpaticamente não se furtar a nenhuma. Entre uma resposta e outra, perguntava sobre o Brasil, sobre o presidente Lula, mostrando algum conhecimento sobre nossa cultura e economia. "Eu acho que o Brasil será a grande potência do futuro próximo", disse ele, que adora a Bahia, que visita frequentemente. Em Itacaré, está investindo na construção de um resort. "A Bahia é linda", exclama.AlvoroçoBjörn compareceu pontualmente ao hotel para entrevista, causando um pequeno alvoroço entre as funcionárias da recepção. Hoje, ele é um senhor sexagenário. Discreto, sereno e elegante. O fato é que ainda é um sucesso. O Abba ainda é sucesso. Discos, fotos e souvenirs estão espalhados pelas lojas da Suécia, onde lá o grupo é praticamente um patrimônio cultural. O musical Mamma mia, em que Björn foi coprodutor, é sucesso há 10 anos na Broadway e também em Londres. Virou filme em 2008, com atriz Meryl Streep no papel principal. Sem falar em Dancing queen, um estouro mundial, que até hoje anima muitas festas.Sobre o auge do Abba, nos anos 1970, Björn afirma não tem nostalgia alguma e que todos do grupo resistiram ao assédio de um retorno de "conveniência". "Conseguimos manter nossa integridade artística", afirma. Em uma hora de conversa, numa manhã cheia de neve em Estocolmo, Björn contou que até hoje se pergunta como foi possível fazer tanto sucesso. "É um milagre. Me pergunto: por que nós. E sempre agradeço a música?". A jornalista-fã repete e finaliza: "Thank you for the music, Björn", em nome dos milhares de fãs brasileiros.Made in SuéciaA Suécia é o terceiro país exportador de música para o mundo, depois de Estados Unidos e Inglaterra. Reinam no mundo pop. Um caminho aberto pelo Abba, que vendeu 360 milhões de discos e continua a alcançar marcas de 1 milhão por ano com coletâneas dos hits da década de 1970. Outro exemplo de sucesso pop sueco, foi a dupla Roxette consagrada entre o fim dos anos 1980 e início dos 1990 com a música It must be love, do casal no filme Pretty Woman (Uma linda mulher). The Cardigans também é uma banda da Suécia, entre outros que frequentam o hitparade.Sucessos da bandaThe winner takes it all(O vencedor leva tudo)Eu não quero conversar sobre as coisas que nós passamosAgora é passado. Eu joguei todas as minhas cartas e foi oque você fez também. Não há mais nada a dizer. Nenhumás a mais a jogar. O vencedor leva tudo. O perdedor fica menorEu estava em seus braços, achando que ali era o meu lugar.Achava que fazia sentido, construindo uma forataleza ondeeu seria forte. Mas fui uma tola, jogando conforme as regrasO vencedor leva tudo. O perdedor tem que cairSuper trouperAs luzes dos refletores irão me cegarMas não me sinto triste, como antesPor que em algum lugar na multidão você estáEu estava enjoado e cansado quando te liguei ontemMas de repente, tudo ficou bemTudo que faço é comer, dormir e cantar,desejando que esse espetáculo seja o últimoEntão imagine eu estava alegre de repente,sabendo que você está vindoE hoje noite será diferente quando eu estiver no palco hojeSeus suspiros provam que ainda estou vivoPonto a ponto Björn UelvosO piano brancoRecentemente, me deparei com aquele piano encostado na minha casa de verão, juntando poeira. Era nele que eu e Benny fizemos tantas composições. Estavam organizando a exposição "Abba World", aberta agora em Londres, e eu pensei: vou doar, que vida maravilhosa terá esse piano viajando o mundo contando a história do Abba. E escrevi um pequeno livro sobre ele, cuja a renda é revertida para caridade. A exposição seguirá para Austrália e Estados Unidos.Novos projetosHá alguns anos, eu e Benny escrevemos um musical chamado Cristina. Ele foi montado agora e vai estrear em Londres no próximo mês. Não tem nada a ver com Mama mia. Cristina é um épico. A história de emigrantes suecos que foram para os Estados Unidos. No fim do século 19, cerca de um milhão de suecos deixaram o país. Representavam um quarto da população. Estamos agora pensando num novo musical. Mas ainda é cedo para falar. Estamos pesquisando. Mas sentimos que ainda há um musical dentro de nós para ser composto.Mama miaEu não sei explicar. É um milagre que as pessoas hoje continuem a gostar. Prova que a música é universal e atemporal. Não achávamos que o musical faria esse imenso sucesso, por tanto tempo. Para mim, foi um momento mágico, de muita emoção acompanhar a gravação do filme na Grécia, especialmente a cena em que Meryl Streep canta The winner takes it all, em meio àquele cenário lindo. Eu pensava: meu Deus, é a minha música, são as minhas palavras, o meu sentimento.O sucessoNós trabalhávamos duro, oito horas por dia, no mínimo, dedicados a pensar música. Éramos ambiciosos no bom sentido. Mas fomos além do que imaginávamos. Eu me pergunto: por que nós? Não descansávamos, demos o nosso melhor. Fazíamos a música que realmente gostávamos. E as pessoas em todo mundo se identificaram. Até hoje reagem de forma tão positiva. Eu sou muito agradecido ao carinho do público até hoje. Eu não sou de ficar escutando as velhas músicas, o que eu curto ainda é o reconhecimento do que fizemos.Sem nostalgiaNão sinto nostalgia alguma. Foi um grande e feliz momento aquele em que o Abba esteve junto. Mas eu não desejaria voltar àquela época. Não sinto necessidade de reviver o passado. Sim, sofremos muito assédio para voltar com o grupo, fazer shows. Mas nunca tivemos essa vontade. Acho que só voltaríamos para fazer algo novo e hoje essa possibilidade não existe. Preferimos que nosso público lembre de nós do jeito que éramos. Geralmente esses shows revivendo bandas antigas acontece quando um dos ex-integrantes está precisando de dinheiro. Os outros ficam com pena e se reúnem. Não é o caso do Abba. É uma questão de integridade artística, conseguimos preservá-la. E hoje somos diferentes, envelhecemos, seria forçar a barra.Família e trabalhoSempre ficamos, aqui, baseados na Suécia. Nosso país era nosso lar, conseguíamos ter uma vida normal. Fazíamos poucas viagens para shows. Passávamos nove meses aqui, concentrados em compor e era possível ter uma vida familiar. Quando viajávamos em tour, nossos filhos iam junto.Fim do grupoChegou um momento em que o grupo começou a perder a energia, o estímulo. Cada um começou a se interessar por um projeto diferente. Eu e Benny queríamos escrever um musical. As mulheres queriam gravar um álbum solo. Então, conversamos e decidimos dar um tempo, um pausa, para talvez voltar no futuro. O que acabou nunca acontecendo. Continuamos amigos, alguns pouco distantes.Casais separadosEu e Agnetha ainda trabalhamos juntos no Abba três anos já depois de separados. Foi possível, porque foi uma separação amigável. Partilhamos a decisão. E, mesmo separados, foi um período positivo no grupo, criativo. Foi a fase de The winner takes it all e Supertrupa. Chega ser ironia do destino compor uma música influenciada pela separação que foi cantada pela minha ex-mulher. A emoção era dupla.Músicas de hojeAcho interessante Lady Gaga. Tem um pouco de Abba ali, como, claro, em Madonna. Éramos muito pop. Também gosto do Coldplay. Mas, no geral, vejo a música pop hoje como algo que passa a impressão de correria, de que não foi finalizada, sem produção adequada. As músicas parecem apressadas, que não houve tempo para terminá-las.

Fonte: Agências

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