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A saída do Reino Unido da União Europeia dá uma rasteira no futebol

A saída do Reino Unido da União Europeia dá uma rasteira no futebol inglês

Sexta - 24/06/2016 às 20:06



Foto: Exame De Gea Manchester United
De Gea Manchester United

David De Gea, espanhol, não teria lugar na Premier League após o Brexit (Foto: Getty Images)

O Reino Unido decidiu sair da União Europeia, e o futebol inglês vai se dar mal por isso. A Premier League avançava para se tornar a primeira liga de futebol global – o maior faturamento do planeta ajudava a atrair os melhores jogadores, a divisão igualitária do dinheiro entre seus clubes abria chances para que um "médio" como o Leicester seja campeão, e mercados como o americano e o asiático passavam a consumi-la. O Brexit (sigla para british exit, ou saída britânica) dá uma rasteira na globalização da Premier League.

A primeira consequência, imediata, é cambial. O futebol inglês tinha a vantagem natural sobre os outros países da União Europeia por causa da libra esterlina. Uma libra valia € 1,40 em meados de 2015. O referendo do Brexit, depois de confirmada a decisão pela saída do bloco econômico, fez com que a moeda britânica despencasse ao menor valor desde 1985. Uma libra, nesta sexta-feira (24), passou a valer € 1,20. O poder de compra dos clubes ingleses foi junto. A soma das receitas de todos os 20 times da Premier League, que chegou a € 4,7 bilhões, hoje vale € 4,2 bilhões. É como se o dinheiro da elite do futebol inglês passasse a valer € 500 milhões a menos de um dia para o outro. Um tombo histórico.

  

A desvalorização da libra prejudica a Premier League porque seus clubes concorrem diretamente com espanhóis, alemães, italianos e franceses pelos melhores atletas do mundo. O Manchester United, o mais rico da Inglaterra, "perdeu" € 60 milhões em poder de compra com o Brexit. Se tinha ambições de contratar astros como o sueco Zlatan Ibrahimovic, agora vai ter de refazer as contas e poupar alguma grana. Os próximos meses serão o pesadelo para qualquer dirigente de futebol: a instabilidade econômica causada pela saída da União Europeia gera especulação, que mexe com o valor da libra esterlina, que afeta o poder econômico do futebol inglês.

A segunda consequência, ainda a ser confirmada, é a limitação à entrada de estrangeiros para jogar na Premier League. Hoje, a regra diz que só tem direito a um visto de trabalho o gringo que tiver um determinado percentual de jogos pela seleção de seu país. Isso valia para brasileiros, africanos, asiáticos, mas não para europeus, que tinham livre circulação. O desmanche do bloco faz com que franceses, italianos, espanhóis e alemães sejam enquadrados na mesma restrição. De Gea, Juan Mata e Anthony Martial, todos do Manchester, são atletas que não teriam visto. A BBC levantou que 332 jogadores europeus nas duas primeiras divisões da Inglaterra e na primeira divisão da Escócia estariam irregulares.

Aí há, também, um contraponto. Os que queriam o Brexit defendiam que a saída da União Europeia pode beneficiar a seleção inglesa. Hoje, 67% dos jogadores que atuam na Premier League são estrangeiros – no Brasil, o percentual está abaixo de 1%. O argumento é que a presença de gringos tira espaço de jogadores ingleses. Sem espaço, eles não se preparam adequadamente para jogar na seleção. Há supostamente menos atletas preparados psicologicamente para uma partida decisiva, por exemplo – motivo para os insucessos ingleses em Copas do Mundo desde o título em 1966. O que os defensores do Brexit ignoram é que clubes "puros", digamos, são tecnicamente inferiores. Times mais fracos geram menos dinheiro, e menos dinheiro limita investimentos em categorias de base para ingleses.

A combinação das duas consequências mais nítidas – menos dinheiro para contratar e mais restrições para "importar" os melhores atletas – culmina no enfraquecimento da Premier League. A liga inglesa cujos direitos de transmissão bateram o recorde de £ 5,136 bilhões para o período entre 2016 e 2019, o principal motivo para a bonança no futebol, vai desvalorizar. É um processo que não começa e acaba em um ano só – até porque muitos dos contratos de televisão e patrocínios assinados têm mais de uma temporada de duração – e que depende das negociações e adaptações que virão. Os cartolas da Premier League, publicamente contrários ao Brexit, agora terão de se mexer para blindar o futebol da instabilidade econômica e política do país inteiro. Mas que a liga inglesa levou um tombo feio, levou. E pode piorar.

Fonte: Época

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