Saúde

A meditação ajuda a criança a se concentrar

Percebi nos jovens uma grande dificuldade para se concentrar

Quarta - 19/10/2016 às 13:10



Foto: Infância Zen Meditação
Meditação

Le Figaro – Por que você decidiu se lançar nessa grande aventura que é transmitir meditação e filosofia para as crianças?

Frédéric Lenoir -  Há muito tempo observo que as crianças, mesmo aquelas muito jovens, formulam frequentemente perguntas filosóficas. O próprio Montaigne dizia que filosofar é uma prática que se adquire a partir do  momento que se sai do ventre da mãe! Fiquei sabendo que esse ensinamento era feito na Suíça, com crianças entre 7 e 8 anos. Durante alguns meses fui lá verificar in loco, visitando várias diferentes experiências desenvolvidas em “ateliês de filosofia”, e em algumas ocasiões fui convidado para ser animador nesses ateliês. Queria experimentar esses processos na prática. Ao final, concluí que essa transmissão de conhecimento filosófico às crianças tem, em primeiro lugar, o mérito de lhes permitir desenvolver um pensamento pessoal e um sentido do debate racional, além de ser uma resposta durável e concreta para confrontar o doutrinamento dos jovens, seja ele de tipo religioso, político ou consumista.

Mas você não se limita à iniciação filosófica. Você também ensina as crianças a meditar. Por que?

Desde as minhas primeiras experiências como animador de ateliês, percebi nos jovens uma grande dificuldade para se concentrar. Como pratico meditação há mais de trinta anos, sei bem o quanto a atenção necessita de um treinamento da mente. Somente ele permite por limites na interatividade permanente na qual vivem os jovens, em muitos casos provocando neles uma agitação mental que inclusive os impede de dormir! Se quisermos que as crianças e os adolescentes possam se exprimir e debater juntos durante nossos encontros de ateliê, é preciso lhes ensinar a se acalmar e a se interiorizar. Assim sendo, criei uma espécie de prática que, precedendo todas as conversações de conteúdo filosófico, as torna mais profundas e mais facilmente assimiláveis.

Você chama essa prática de “presença plena”...

Sim. Fala-se muito hoje da “meditação da consciência plena”, que é uma tradução literal do termo Mindfulness, cunhado por cientistas norte-americanos. Mas, na verdade, esse termo “consciência” em francês remete excessivamente à definição cartesiana que sugere uma atividade do pensamento. E aquilo que propomos às crianças, num primeiro momento, é justamente o aprendizado do não-pensar! Trata-se muito mais de uma prática da presença e da atenção ao seu próprio corpo, à sua respiração.

E quais são os efeitos?

Extraordinários! Depois de apenas cinco minutos de prática, e ao final de cerca de três sessões, todas as crianças, ate mesmo aquelas que se mostravam agitadas na ocasião do seu primeiro ateliê, se acalmam e estão prontas para se exprimir livremente a respeito de temas como a felicidade ou a amizade, e também prontas para ouvir atentamente os outros. Os efeitos vão muito além daquilo que eu imaginava. As crianças possuem um grande desejo de encontrar sentido para as coisas, e de se conectar a si próprias. Isso me dá muito esperança.

E em relação às instituições escolares?

Também nesse aspecto encontro reações positivas. Observo que o Ministério Nacional da Educação é favorável à ideia de formar educadores que possam ministrar a prática da atenção e demais técnicas que ensinamos nos ateliês de filosofia. Estudamos agora a possibilidade de um acordo que permitirá aos professores que assim o desejarem se iniciar em nossa abordagem com o objetivo de incrementar sobretudo os curso de educação cívica que, há pouco, voltaram a integrar os currículos escolares. As resistências virão sem dúvida de certos professores de filosofia que consideram impossível filosofar sem possuir um saber conceitual. Mas a cada dia são mais numerosos aqueles que percebem e aceitam o fato de a filosofia ser, antes de tudo, uma prática de vida. E não apenas uma dissertação puramente intelectual.

Fonte: Brasil 247

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